domingo, 1 de março de 2009

Carnaval In Door. Cuidado com o que você deseja...

Mineirinho, onde é feito o AxéBrasil, o Carnaval baiano em Minas





Tony Pacheco


O Carnaval 2009, parece, foi um divisor de águas depois que o prefeito João Henrique confessou que é muito dinheiro gasto pra pouco retorno.

Mas o melhor mesmo foi a reação dos "barões da folia", ao ameaçar que se insistirem em taxá-los, eles vão fazer um "Carnaval In Door', vale dizer, uma micareta igual à de Belo Horizonte, onde o CarnaBelô foi expulso da Avenida Afonso Pena e foi parar dentro de um estádio.


Neguinho só não conta o porquê.


Eu conto. O CarnaBelô invadiu o Centro de Belo Horizonte. Só que mineiro é um bicho que tem noção de cidadania. Quando viram que a cidade parava para poder fazer a folia baiana, prejudicando milhares de pessoas, um desembargador obrigou os empresários a abandonarem a via pública e fazer a sua farra "in door" (num espaço fechado).


Aqui em Salvador, eu bem me lembro, quando minha colega de Faculdade de Economia Lídice da Mata foi prefeita (1993-1997), tinha gente no governo dela que começou a questionar a injusta fila dos blocos, que põe os "brancos da terra" no horário nobre e os negros na madrugada. Logo logo, tudo se ajeitaria quando o irmão dela, meu amigo Ari da Mata, se tornou o coordenador do Carnaval.


Mas, durante o mal-estar, já que o governo dela pretendia ser de esquerda, lembro-me que dois empresários ensaiaram um discurso-ameaça: "Se não nos querem em Salvador, vamos fazer o Carnaval dos blocos em Lauro de Freitas". E a imprensa especializada chegou a repetir como papagaio esta ameaça, como se fosse possível uma cidade de ruas estreitas como Lauro comportar aquela estrutura de trios gigantes cercados de cordas por todos os lados...


Agora, o discurso se repete, com nova formatação: os blocos se organizariam num espaço fechado, longe das ruas da Barra.


E eu digo: sabe que seria bom?


O formato atual é altamente excludente em termos sociais. Faz com que o povo da cidade seja eterno coadjuvante de sua própria vida. Por seu intolerável gigantismo, demanda um esforço do Estado e da Prefeitura incompatível com a boa gestão da coisa pública. E, de mais a mais, os moradores da Barra não aguentam mais ficar exilados dos seus lares durante quase dez dias por ano. Pense aí, meu irmão! Você, morador de São Caetano ou do Horto Florestal, se alguém expulsasse você de casa por 10 dias, a troco de nada, você ia gostar? Hem? Foi intolerável em Belo Horizonte e teve que mudar. No Rio e São Paulo já é "In door" há muito tempo, assim como em várias cidades onde há micaretas. Um dia vai ter que mudar aqui também.


Que venha a Arena do Axé ou "Axéna", quem sabe, assim, o Carnaval de Salvador volte a ser de participação popular e dona Luana Piovani não venha dizer, novamente, como todo mundo faz agora, que "o Carnaval de Recife tem muito mais participação popular que o de Salvador".


6 comentários:

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  2. Esquenta não, pois já houve um tempo em que os pierrô, as colombinas e os arlequins (rico$ & branco$) circulavam tristes e apaixonados pelos salões refinados da cidade.

    E nós, os pretos, pobres e feios pulávamos feito pipocas por todos os cantos, endiabradamente de "caretas e mascaradas" pelas ruas...

    E nós sempre fomos felizes com as nossas fuzarcas e charangas!!!

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  3. BH encontrou uma saída, que pode perfeitamente servir para todos. Manaus também já tem sua arena de fazer folia, como o sambódromo, por exemplo, de Rio e SP. Acredito que o problema da Arena Axé seja o preço dos ingressos. O recomendável é ter de camarote, pra elite, claro (lá em cima), até o espaço bem popular, uma “geral”, digamos assim; nosso povo lenhado, claro iria para este último espaço, mas pelo menos participaria da festa. Também defendo a boa charanga (“das antigas”), de rua mesmo!!! Parabéns a Tony, Alex e Ricardo!!!
    - Marinaldo Mira

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  4. Caro tony. Concordo com vc. acho muito bom que o carnaval dos chamados grandes vão para o centro de exposições ou outro lugar como já está se falando da parceria entre Nizan guanaes e ivete sangalo para montagem de uma mega casa de shows. Os trios independentes e pequenos blocos voltariam a fazer o carnaval da avenida com os pipocas e outras celebridades massarandubanas etc e tal.Duvido que os grandes Hoteis da barra concordem com isso. Aí é que a porca torcerá o rabo, ou não.
    Prefeito terá coragem de enfrentar?
    Carlos Pacheco.

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  5. Seria ótimo se o carnaval dos bonitos fosse para um lugar onde só eles tivessem acesso, para não se criar mais sonhe de consumo inútil nesse povo já tão abestalhado de tanta falta de formação. Deixem prá nós as praças, o largo, o centro, as ruas e as ladeiras, os blocos, as batucadas, poucos trios, menos barulho, e quem sabe um carnaval popular não reapareça na Bahia!
    E as festas de largo? quem sabe não se vai autorizar umas barraquinhas, daquelas que eu tenho saudade, e que a administração da cidade assassinou um dia. Eles já estão querendo acabar com São Joaquim... mas isso é outro papo. Volto para o meu "Rake's progress" que é sonhar melhor do que esse pesadelo informe que é hoje Salvador!

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Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.