segunda-feira, 16 de março de 2009

O teatro da dengue na Bahia

Além do mosquito, existe a fila para o atendimento


Alex Ferraz
Há pelo menos oito meses que a pedra da epidemia de dengue na Bahia vinha sendo cantada, inclusive pelo próprio governo federal! A tragédia anunciada, porém, mais uma vez pegou os governantes de plantão "de surpresa". Agiram como se costuma agir neste país, notoriamente nesta terra de trio elétrico, da "maior festa de rua planeta" e coisas que tais: esperaram o ladrão arrombar a porta para começar a fechá-la. De uma hora para outra, constrangidos pelo número cada vez maior de mortes, governador e secretário de Saúde decidiram entrar em campo. Aí, vem aquele teatro clássico que nós, que temos um certo tempo de experiência na imprensa (pode botar aí umas três décadas), estamos acostumados a ver repetir-se a cada governo (justiça-se se faça, os do PT não são pioneiros nisso, apenas acentuaram a situação). Num espetáculo midiático, Jorge Solla, secretário da Saúde, "transfere" seu gabinete para Itabuna, foco da epidemia na Bahia. Fica lá uns dois dias, inaugura uma UTIzinha qualquer - com a presença pomposa do governador, sendo que este logo se pica para a Venezuela (foi homenagear Chávez por ele colocar o Exército contra a Oposição?!) -, instala mais uma dezena de leitos e, pronto, está tudo nos conformes (deve achar que assim pensa a população).
Em Savador, o secretário visita o Hospital Geral do Estado, sempre acompanhado por um exército de fotógrafos e repórteres, e estes nada perguntam sobre o principal da epidemia, enlevados que estão com a ação espetacular de Solla.
A outra "medida" adotada para "combater" a doença é acusar as vítimas do mal, culpando-as pela epidemia.
A população, acossada pela falta de saneamento, pelo desemprego, pela deseducação absoluta, pela tortura nos postos médicos públicos, pela violência ultrajante que produz dezenas de mortos num único final de semana (assassinados pelos bandidos ou pela Polícia, gerando um Estado de Sítio branco), estressada ao extremo, vê-se agora com ré num julgamento feito pelos que ocupam palácios e secretarias suntuosas, sem jamais se preocupar realmente em oferecer um bom atendimento médico permanente e boas condições de moradia, por exemplo, coisas fundamentais para se enfrentar e até mesmo evitar uma epidemia desse porte.
Mas eu acho que a população é culpada, sim. Culpada por não ir às ruas EXIGIR ser tratada como gente, deixando essa vida de gado rumo ao abatedouro.

O TEATRO DA CRISE
Vejo na TV, causando-me arrepios e náusea, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, repetir cinicamente, mais uma vez, agora "direto de Nova Iorque" (frisa, com orgulho provinciano, o repórter), que o Brasil é o país que "menos sofre" com a tal crise internacional, e que sairemos desta já, já.
Vejo as notícias sobre desemprego em massa no país, queda na produção, propostas patéticas de redução de salário, medo e tensão entre os trabalhadores, e fico a pensar até quando Lula e seus auxiliares manterão essa farsa, tentando garantir os votos da massa que não pensa, porque para tal foi moldada, e que se dá por feliz se a merreca do Bolsa Família não sofrer com a crise. Ufa!

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. ... noutros tempos, após a leitura deste artigo, poder-se-ia afirmar peremptoriamente que os casos endêmico de ‘dengue’ que por hora campeiam soltos nas quatro direções, tratavam-se de uma campanha promovida sistematicamente pela imprensa marrom.

    o argumento utilizado pelos ‘homê’ sentado no poder seria de que com essas ‘meias verdades’, ter-se-ia como único objetivo desestabilizar um governo popular que ‘zela’ por todo o seu povo (sic!) na sua luta diária contra as epidemias, digo as agruras da pobreza, que grassa feito a besta-fera em todos os quadrantes do estado da Bahia.

    conclui-se que se trocou de ‘demo’, mas o monturo de merda que aí está por séculos é o mesmo, e que para não levantar qualquer dúvida expõem em carne viva as nossas mazelas...

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  3. Todo poder emana do mosquito que tem dado de dez a zero nas "autoridades" da Bahia.
    Nas próximas eleições não esqueçamos: o mosquito é o cara!

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  4. Estamos no centro de uma epidemia mortal cujo protagonista é um “mínimo mosquito”. A mídia chama realmente de guerra e ainda diz que o mosquito está vencendo a guerra e que a dengue tem avançado a índices altíssimos, a ponto de ser considerada uma situação de “calamidade pública”.

    Começa a ciranda do empurra-empurra. O ministério Pública cobra do Governo. O Governo (Estado) diz que a competência do combate é do município. Os representantes do município dizem que a população não colabora e favorece a proliferação do mosquito. (somos quem?). Surgem teorias, apologias, artigos, estudos, pesquisas, fórmulas, acusações, defesas, Leis (Inclusive a Lei Orgânica da saúde, lei 8080), pactos, provocações, e indignações.

    Nada disto evita que pessoas percam as suas vidas de uma forma banal e absurda. Que fiquem todos em pânico ao primeiro sintoma de febre, dor no corpo e dor de cabeça.

    Somos todos responsáveis pelo combate ao mosquito. E esse combate implica em mudança de comportamento. É preciso “desvestir” a roupa do egoísmo. De achar que é inatingível e seu vizinho pode ser atingido. De cuidar de uma comunidade como um todo e não priorizar as partes luxuosas, pois os mosquitos são transportados para toda parte de diversas formas.Nesta situação a conscientização coletiva é essencial para vencer essa guerra e evitar tantas mortes. Isso não exige tecnologias sofisticadas e sim solidariedade, algo que estamos esquecendo que existe no século XXI.

    (http://luacumplice.blogspot.com/)

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Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.