Alex Ferraz
Quando a UNE realizou um sarau em Salvador, recentemente, quase fui apedrejado pelas ditas lideranças estudantis por ter criticado a absoluta alienação política em que mergulhou a entidade, e sua massa associada, e de cujo congresso de reconstrução tive orgulho de participar, cerca de 30 anos atrás, em Salvador. E por que a letargia daquele que já foi o movimento mais influente do Brasil? Porque os chefes dos estudantes estão nadando em dinheiro oficial e não abrem o bico para criticar o governo Lula. Pelo contrário, ostentam fotos do presidente em seu site.
Vejamos os números: de R$ 199 mil que a UNE recebeu em 2004, no início da "já era" Lula, atualmente o repasse oficial está casa dos R$ 4,5 milhões (2008). E lá vem mais dinheiro: apenas neste mal nascido ano de 2009 (dois meses e pouco!) a conta da UNE já recebeu R$ 2,5 milhões dos cofres públicos.
Então, boca fechada.
Em décadas, o País jamais viveu uma crise social como a de hoje, com centenas de milhares de desempregados nos últimos cinco meses, uma corrupção escancarada com políticos roubando à luz do dia, sem a menor cerimônia, e nomes clássicos da ditadura militar e do coronelismo circulando lado a lado com Lula e seus parceiros, como Delfim Netto, José Sarney, Paulo Maluf e tantos outros. Nunca a educação esteve em tão baixa conta, jamais houve tanta violência e o crime organizado nunca ousou tanto. E os estudantes, que antes iam às ruas fazer quebra quebra até por passagens de ônibus, permanecem mudos, em silêncio tumular e comprometedor.
Aí, eu lembro de uma de numa charge que fiz no jornal"O Inimigo do Rei", que esta turma do blog, mais Eduardo Nunes, Hilda Maria, Sebastião Santa Rosa e tantos outros, fazia nas décadas 70/80: mostrava, de um lado, a Polícia Militar segurando seus cachorros pela coleira, e gritando: "Soltem os cães", e, do outro lado, lideranças do DCE (Diretório Central dos Estudantes) segurando estudantes também por uma coleira e berrando: "Soltem os estudantes!"Quase fui linchado pela diretoria do DCE à época, e fiquei com medo de ser espancado pela PM. Sempre foram massa de manobra, os estudantes. Só que nos anos 1960 e 1970 pelo menos havia um pouco menos de alienação e o próprio regime militar nos forçava a reagir, tal a sua forma acintosa de tolher a liberdade de expressão. Hoje, os estudantes continuam massa de manobra, mas não é preciso mais coleira, posto que, domados e amansados pela ignorância absurda que tomou conta do ensino no Brasil, são dóceis demais.
Daí vem a minha equação do titulo deste comentário: as lideranças atuais da UNE estão se beneficiando, ironicamente, de dois extremos da vida política e institucional brasileira: de um lado, a imbecilização da juventude gerada por décadas de uma educação distorcida e supérflua, fruto da reforma de ensino criada pela DITADURA MILITAR, com interesses óbvios; de outro, as benesses de um governo tido como de esquerda, mas que fez do dinheiro público sua principal arma para conquistar desde políticos a sindicalistas, passando, é claro, pelos estudantes (e pelos miseráveis apáticos e humilhados do Bolsa Família).
Uma fórmula eficaz, que silenciou os movimentos de rua. Já disse e repito: Lula deveria ganhar uma estátua construída, conjuntamente, por banqueiros, militares, sindicalistas e estudantes. Nunca este pais teve tanta "paz" social como agora. Até parece que estamos vivendo na Dinamarca. Pois sim!
terça-feira, 3 de março de 2009
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Bom (exato) esse comentário sobre a UNE. Gostei. Não gostei da referência ao governo como "tido como de esquerda". Tido por quem???!!!
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