Um país de canalhas

Alex Ferraz

No momento em que me preparava para escrever este comentário, nesta manhã de sexta-feira, dia 10 de julho de 2009, a TV mostrava o caso de um rapaz de 22 anos, Paulo Eduardo Veratti, que atropelou quatro joves, matando dois imediatamente, em Jaú(SP).

O sujeito estava embriagado(e sabe se lá mais o quê!) e ao ser conduzido para a delegacia, bradava: "Minha família tem dinheiro. Isso vai dar em nada", e ainda mandou que as pessoas,revoltadas com o acidente e que observavam a cena, fossem "se fuder".

Ele tinha toda razão:o delegado da cidade o liberou imediatamente, após o pagamento de fiança de R$1.200, ou seja, R$ 600 para cada vida que ele tirou com sua insanidade de digirir em altíssima velocidade.

Corta para a Bahia: a mulher, preta e pobre, no interior, procura um hospital para dar à luz um filho (ô, minha filha! Preta e pobre, no Brasil, e ainda querendo ter filho?!É suicídio!). Lá, médicos dizem que ainda não é hora e a mandam de volta para casa, na zona rural. Ela volta, à noite, caminhando por uma estrada deserta, onde acaba parindo no chão. Ouvida sobre o episódio, a diretora do hospital diz que foi um caso de "parto precoce" e que realmente não era aquele o momento de a mulher parir. A natureza estava errada, então, não é, doutora?

Não me surpreendem os dois fatos citados, apenas exemplos de milhares semelhantes que acontecem todos os dias neste paizinho onde meia dúzia de ricaços finge viver na civilização, enquanto a maioria sobrevive (ou morre) na lama, na violência, na dengue, na febre amarela, na miséria, na esmola do Bolsa Família, nas imensas populações sem esgoto, sem escola, sem qualquer direito de uma vida digna.

Não me surpreendem porque criou-se, melhor dizendo, consolidou-se no País a cultura da mentira deslavada, da negativa pela negativa, da falta da coragem que deveria guiar o comportamento de um homem de verdade. Isso acontece em todas as esferas, desde o ambiente de trabalho, onde o funcionário que erra jamais assume seu erro, passando por meios ditos intelectualizados, e,é claro, explodindo na política e nos governos.

O presidente Lula disse que "não sabia" do mensalão, Sarney "não sabia" que a Petrobras estava abarrotando a fundação que leva seu home e da qual presidente de "honra" (que honra, senhor?) com dinheiro público; deputados que roubam descaradamente não sabem de nada, não fizeram nada e a culpa é da imprensa, que inventa tudo. Etão, estápavimentado ocaminho largopara a mentira, para a frouxidão de jamais assumir erros, posto que jamais são punidos por eles.

Governantes e políticos em geral de hoje fazem isso porque seus antecessores,aos quais são iguaizinhos, cuidaram de promover a ignorância na população, mantida às dezenas de milhões na mais abjeta alienação.

É isso que se quer. É isso que Lula quer, que FHC quis, que Itamar fomentou, que a ditadura militar incrementou, que os coronéis da política sempre quiseram: um bando de miseráveis alienados comandado por uma elite boçal, cretina e sem moral.

Quem tem dinheiro, tudo pode; quem não tem, que se cale com as esmolas oficiais e trate de votar nos messias.

Mentem descaradamente, saem impunes das mais escandalosas situações,nossos políticos.

O avogado de Jaú,do alto dos seus 22 aninhos, está certíssimo: "Tenho dinheiro e não vai dar nada. Se fodam!"