sábado, 25 de julho de 2009

Um festival de mentiras

Alex Ferraz

Quando ainda não eram governo, os petistas (ditos "esquerdistas") faziam críticas ferrenhas, e com razão, à massificação que os governos, desde o federal aos municipais, faziam através de bilhões gastos em propaganda enganosa.

Conforme os anúncios oficiais na mídia (jornais, rádios e TVs), a vida era uma maravilha, aquele governo era o melhor de todos etc.etc.

Hoje ocupando postos de comando, esses antigos críticos se utilizam da mesmíssima técnica, não tendo o menor pudor em lançar programas que não existem, anunciar obras que jamais começarão, maquiar a cidade de Salvador para receber ditador de Cuba, e falsear, enfim, a realidade de modo acintoso, constituindo-se, tais atitudes (lapidadas pela criatividade cínica de meia dúzia de publicitários e marqueteiros especializados em tentar convencer a sociedade de que Papai Noel existe), em verdadeiro deboche para com o bom senso da população, agredindo de forma ainda mais grave e despudorada aquela massa que não pensa e tem seus votos comprados pelas migalhas dos cofres palacianos.

Quero apenas citar um caso, exemplar: está sendo veiculada nas rádios uma mensagem publicitária do governo federal com suposta entrevista a um casal. Nela, supostos marido e mulher comentam que estavam desempregados, choramingam etc, e depois concluem que, com os dois empregados e ganhando salário mínimo, já podem fazer compras em supermercados, divertir-se e até construir uma casa.

Vejamos: o valor atual do salário mínimo é R$ 465. Multiplicado por dois, temos R$ 930 mensais. Considerando que este casal (SE NÃO TIVER FILHOS, VEJAM BEM!) gaste R$ 250 mensais em comida (o que significa uma dieta franciscana), cerca de R$ 60 para o marido assistir a duas partidas de futebol em um mês, mais uns R$ 40 para terem o direito de partilhar umas cervejinhas em quatro fins de semana, com muitíssima moderação, sem falar em alguma despesa com medicamentos, um vestidinho e/ou uma bermuda novos, daqueles bem baratos da Baixa dos Sapateiros (comércio popular de Salvador) etc., só aí teremos R$ 350, restando R$ 580,00, com os quais eles terão que comprar o terreno e construir "a casinha", enquanto, já que ainda não têm o lar, pagam o aluguel de algum barraco.

Podemos calcular que levem alguns bons anos até construir uma "casinha" em algum local longínquo, na periferia da cidade, longe de praticamente todos os serviços que tornam a vida de uma pessoa suportável. Longe de estádios, cinemas (ih, cinema?! Hum! Nem pensar!), farmácias, praças civilizadas, saneamento digno etc., e bem perto, pertinho, vizinhos, de traficantes, guerra do tráfico, cadáveres amanhecendo em suas portas, portas estas que devem, junto com as janelas, permanecer cerradas todo o tempo na esperança de que detenham ou reduzam a velocidade das balas perdidas.

É esta a vida que os ocupantes do Palácio do Planalto e seus marqueteiros acham ideal para "o povo", enquanto consomem toneladas de carnes, decalitros de vinhos caríssimos e viajam esse mundão afora gastando fortunas dos nossos impostos (qualquer semelhança coma França pré-revolucionária não será mera coincidência), além de empregar toda a família ganhando salários altíssimos e trabalhando, quando trabalham, quase nada.

Creio que muitos, ao lerem este comentário, podem até me achar radical. Podem dizer: "Pior é não ter nada, é não ganhar um centavo". Não, senhores, pior é ter como eterna perspectiva essa vidinha de merda, contando moedinhas para comprar pão e saber que o mundo do conforto e do bem viver, nada em nível palaciano mas pelo menos com dignidade razoável, nunca lhes pertencerá.

Nunca, porque a apregoada "redistribuição de renda" não passa de migalhas para um povo que tem sido historicamente colocado no limbo da vida, sobrevivendo em ônibus lotados (e assaltados diariamente), suando em empregos escravizantes, atônitos com a violência descabida, anestesiados pelo morticínio diário e humilhando-se em filas pelas madrugadas para tentar assistência médica.

Não é culpa só de quem está aí, hoje. É culpa de quem domina esse país há 500 anos. E quando aparece alguém dizendo que vai mudar, logo percebemos que é mais um enganador de carteirinha, um espertalhão que mudou, sim, sua própria vida, inclusive babando o ovo dos poderosos da economia selvagem, enquanto finge esbravejar contra eles. E mantém a miséria no seu lugar, sob as rédeas das esmolas oficiais.

3 comentários:

  1. Nem uma foto seria tão fiel ao cenário.

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  2. É a pura e dolorosa verdade. Espero que aos poucos uma parte consciente da população entenda o mal que é feito a cada dia que passa ao povo deste país. Essa exclusão não é a única geradora de violência, mas ela contribui e muito para desesperança que esses governos "de esquerda" acabaram por suscitar. No meu tempo o pobre tinha a oportunidade de ter alguma coisa, alguma recompensa à esperança. Hoje, além dos diversos carnavais anuais, ele está fadado à miséria impiedosa. Dá vontade até de acreditar em Deus e sair por aí pregando qualquer coisa para diminuir a culpa ou ver se renasce um pouco dessa esperança perdida. A miséria é feroz! Sem os denefícios da educação, da saúde de um mínimo de decência no morar, o quê resta? A pobreza dói, como a fome e a falta de perspectivas. Queria saber como esses Senhores e Senhoras encaram a publicidade que encomendam e o que lhes diz a consciência quando cruzam o olhar de um desses miseráveis?
    SG

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Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.