Lula nos bons tempos, agitando os metalúrgicos
Alex Ferraz
Descobriu-se, no Brasil, que pessoas de origem humilde, ex-operários, podem chegar ao poder máximo e ali desfrutar de mil mordomias, dantes inimagináveis e ofertadas apenas à elite econômica ou a "coronéis" que conchavavam para que essa referida elite mantivesse o poder.
A nova classe mandatária brasileira, então, não teve o menor escrúpulo em utilizar as artimanhas e mecanismos vis herdados das eleites que antes ocuparam o poder. Assim, descobriu fácil que dando uma esmola chamada Bolsa Família (que avilta o pobre, condenado a fixar-se no "patamar" social de jogador de dominó ocioso, a quem nada mais resta do que esperar a pobre graninha do fim do mês). A esmola oficial garante milhões de votos da pobreza humilhada e as fortunas bilionárias calam os políticos, até da "oposição", e locupletam os banqueiros.
Em nome da "paz social" (leia-se: blindar o governo "dos trabalhadores" contra a indesejáveis turbulências sociais causados por protestos de quem está perdendo seus empregos), os sindicatos silenciaram. Vivemos agora mais um entremuitos episódios exemplares desse comportamento traidor da maioria dos sindicatos: as 4.200 demissões na Embraer já tinham sido cantadas pela direção da empresa. A CUT e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), onde fica a sede da Embraer, travam um bate boca que deixa claro que ambos fizeram vista grossa à ameaça das demissões que acabaram por concretizar-se. O presidente da Conlutas, à qual é filiado o sindicato de São José dos Campos, José Maria de Ameida, acusa o presidente da CUT, Artur Henrique, de ter ficado inerte diante da notícia das 4.200 demissões: "Ele estava na reunião em que Lula foi informado, quatro dias antes do anúncio, e não nos avisou", disse Almeida, arrematando: "Foi mais leal ao governo do que aos trabalhadores" (gravem esta frase, digo eu!).
Já a CUT diz que o sindicato tratou das ameaças de demissão na Embraer,"durante meses", de "maneira exclusivamente ideológica." Nem tanto: um boletim do sindicato, divulgado 48 horas antes do anúncio das demissões, convocava os associados para um bloco de Carnaval.
Pois é: o Carnaval acabou e o que resta agora é um bloco cada vez maior de trabalhadores sem emprego, enquanto seus lideres, fascinados pelas benesses do poder, cooptados até o pescoço pelos cofres do Planalto, silenciam diante do massacre ao qual vem sendo submetido o trabalhador brasileiro e festejam um "aumento" de R$50 no salário mínimo.
Na Bahia, o caso mais recente de demissões foi divulgado hoje: a Britânia, usando o incrível argumento de que "o Nordeste não compra ventiladores" (num calorão desses!), fechou as portas e demitiu 370 pessoas, em Camaçari. Veremos qual a posição que o prefeito de lá, Luiz Caetano (PT), tido como "defensor da classe operária", adotará.
Chego à conclusão de que a única diferença entre os governos petistas e a direita que os antecedeu é que o PT pelo menos dá Bolsa Família e promete distribuir geladeiras.
De resto, tudo como dantes, no Velho Quartel de Abrantes.
A MOSCA AZUL
Tenho em casa o exemplar de uma revista metida a vip, dos anos 1980, que estampa uma foto enorme de Lula e FHC panfletando na porta de um sindicato paulista, nas primeiras greves da incipiente redemocratização, na agonia da ditadura militar.
FHC foi eleito e reeleito presidente, e o passado de "agitador" ficou definitivamente enterrado. Tripudiou com os trablhadores, inventou a maldição do Bolsa Família e ainda chamou os aposentados de "vagabundos", contrariando de forma flagrante sua alardeada formação intelectual.
Lula substituiu FHC e, de novo, a mosca azul agiu: gastou (e gasta) bilhões do dinheiro público comprando votos de deputados (como fez FHC para criar o instituto de reeleição) e dispende outra parte para enganar os miseráveis que vivem da esmola oficial.
Na Bahia, após o fim da era carlista, a única mudança palpável é que podemos falar mal do governo sem o medo de ser espancado ou morto na próxima esquina. De resto, o que se vê é a continuidade de uma miséria sem par (Salvador só está à frente de Teresina em termos de renda per capita) e uma matança desenfreada. Caros internautas: observem o noticiário policial, não como uma rotina que já nos calejou, mas como um somatório de fatos, e vejam que, provavelmente, mata-se mais hoje, na Bahia, em nome da segurança pública, do que nos tempos da "Savak" de ACM.
E ai, mudou o quê?
Alex Ferraz
Descobriu-se, no Brasil, que pessoas de origem humilde, ex-operários, podem chegar ao poder máximo e ali desfrutar de mil mordomias, dantes inimagináveis e ofertadas apenas à elite econômica ou a "coronéis" que conchavavam para que essa referida elite mantivesse o poder.
A nova classe mandatária brasileira, então, não teve o menor escrúpulo em utilizar as artimanhas e mecanismos vis herdados das eleites que antes ocuparam o poder. Assim, descobriu fácil que dando uma esmola chamada Bolsa Família (que avilta o pobre, condenado a fixar-se no "patamar" social de jogador de dominó ocioso, a quem nada mais resta do que esperar a pobre graninha do fim do mês). A esmola oficial garante milhões de votos da pobreza humilhada e as fortunas bilionárias calam os políticos, até da "oposição", e locupletam os banqueiros.
Em nome da "paz social" (leia-se: blindar o governo "dos trabalhadores" contra a indesejáveis turbulências sociais causados por protestos de quem está perdendo seus empregos), os sindicatos silenciaram. Vivemos agora mais um entremuitos episódios exemplares desse comportamento traidor da maioria dos sindicatos: as 4.200 demissões na Embraer já tinham sido cantadas pela direção da empresa. A CUT e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), onde fica a sede da Embraer, travam um bate boca que deixa claro que ambos fizeram vista grossa à ameaça das demissões que acabaram por concretizar-se. O presidente da Conlutas, à qual é filiado o sindicato de São José dos Campos, José Maria de Ameida, acusa o presidente da CUT, Artur Henrique, de ter ficado inerte diante da notícia das 4.200 demissões: "Ele estava na reunião em que Lula foi informado, quatro dias antes do anúncio, e não nos avisou", disse Almeida, arrematando: "Foi mais leal ao governo do que aos trabalhadores" (gravem esta frase, digo eu!).
Já a CUT diz que o sindicato tratou das ameaças de demissão na Embraer,"durante meses", de "maneira exclusivamente ideológica." Nem tanto: um boletim do sindicato, divulgado 48 horas antes do anúncio das demissões, convocava os associados para um bloco de Carnaval.
Pois é: o Carnaval acabou e o que resta agora é um bloco cada vez maior de trabalhadores sem emprego, enquanto seus lideres, fascinados pelas benesses do poder, cooptados até o pescoço pelos cofres do Planalto, silenciam diante do massacre ao qual vem sendo submetido o trabalhador brasileiro e festejam um "aumento" de R$50 no salário mínimo.
Na Bahia, o caso mais recente de demissões foi divulgado hoje: a Britânia, usando o incrível argumento de que "o Nordeste não compra ventiladores" (num calorão desses!), fechou as portas e demitiu 370 pessoas, em Camaçari. Veremos qual a posição que o prefeito de lá, Luiz Caetano (PT), tido como "defensor da classe operária", adotará.
Chego à conclusão de que a única diferença entre os governos petistas e a direita que os antecedeu é que o PT pelo menos dá Bolsa Família e promete distribuir geladeiras.
De resto, tudo como dantes, no Velho Quartel de Abrantes.
A MOSCA AZUL
Tenho em casa o exemplar de uma revista metida a vip, dos anos 1980, que estampa uma foto enorme de Lula e FHC panfletando na porta de um sindicato paulista, nas primeiras greves da incipiente redemocratização, na agonia da ditadura militar.
FHC foi eleito e reeleito presidente, e o passado de "agitador" ficou definitivamente enterrado. Tripudiou com os trablhadores, inventou a maldição do Bolsa Família e ainda chamou os aposentados de "vagabundos", contrariando de forma flagrante sua alardeada formação intelectual.
Lula substituiu FHC e, de novo, a mosca azul agiu: gastou (e gasta) bilhões do dinheiro público comprando votos de deputados (como fez FHC para criar o instituto de reeleição) e dispende outra parte para enganar os miseráveis que vivem da esmola oficial.
Na Bahia, após o fim da era carlista, a única mudança palpável é que podemos falar mal do governo sem o medo de ser espancado ou morto na próxima esquina. De resto, o que se vê é a continuidade de uma miséria sem par (Salvador só está à frente de Teresina em termos de renda per capita) e uma matança desenfreada. Caros internautas: observem o noticiário policial, não como uma rotina que já nos calejou, mas como um somatório de fatos, e vejam que, provavelmente, mata-se mais hoje, na Bahia, em nome da segurança pública, do que nos tempos da "Savak" de ACM.
E ai, mudou o quê?
... curtindo ainda um pouco mais a ressaca pós-carnaval de Camille Paglia, eu solidarizo os meus verdadeiros sentimentos com a sobriedade/ sabedoria dos russos, que do alto dos seus litros e mais litros de vodka consumidos para espantar a atual síndrome de desemprego, que é proveniente da quebradeira generalizada no mercado global.
ResponderExcluirMercado este, que até outro dia era incensado e considerado como único elemento de controle e regulação das suas inerentes contradições: a exploração do trabalho alheio jogado sobre o macio veludo de fundo verde.
Ressalte-se que esta é a maior crise já vista desde os tempos de Al Capone e o seu melhor whisky baldeados, produzidos em baldes provenientes diretamente da escócia.
Portanto, que viva a clarividência do melhor ditado popular russo: "se queres conhecer realmente o caráter de um homem/ político? Dê a ele – pelo voto ou por um golpe de estado –, o controle do poder político das estruturas do Estado Burguês (redundância maior, impossível)!"