Alex Ferraz
Vejo os mil arrodeios que dirigentes de faculdades e universidades fazem querendo eximir-se de responsabilidade nos trotes medievais que os veteranos impingem aos calouros. O argumento mais comum é o fato de os trotes ocorrerem, no mais das vezes, fora dos muros da universidade. Balela! Não existe o "lado de fora" quando se trata de educar e formar a moral de pessoas, quando se fala em conviver civilizadamente. Não pode ser aceito do lado de dentro quem vira um troglodita do lado de fora (seriam casos espantosos de dupla personalidade, caro psicanalista Tony Pacheco, colega de blog?). O mesmo digo para os pais dessas pessoas, que certamente muita influência têm (ou deveriam ter) na formação do caráter desses jovens.
Estudei oito anos no Colégio de São Bento, em Salvador. Lembro-me de um espisódio exemplar: um dia, acompanhando uma turma de colegas, resolvi pirraçar uma louca (diziam que era louca, não sei...) que ficava ali no Largo de São Bento, praticamente tal e qual ele é hoje. Isso foi lá por 1971. Mas voltemos à "louca": ela detestava ser chamada de "arraia" e eu gritei "arraia!" inúmeras vezes.
Furiosa (naturalmente, entendo hoje), a mulher apanhou uma pedra e começou a me perseguir. Entrei à toda, pátio adentro (aquele pátio fantástico, construido em 1612), tendo como única esperança de salvação o imenso portão verde de entrada para o colégio, cujo diretor, o inesquecível dom Norberto Santana, mantinha sempre aberto e lá ficava vigilante até o último aluno desaparecer na esquina.
Ele aguardou que eu chegasse bem próximo e quando fiz menção de entrar, bateu a porta com toda força na minha cara. Fiquei estatelado no portão. Na minha frente, "arraia", com a pedra, titubeou, olhou para os lados, lançou fora o petardo e foi embora. Quase morri de medo. Então, dom Norberto abriu o portão e me disse, antes de fechá-lo de novo com estrépido: "Isto é para o senhor aprender a respeitar todas as pessoas."
No São Bento, pelo menos naquela época, não existia o lado de fora...
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