Alex Ferraz
O governo federal (leia-se: presidenteLula) acaba de anunciar enfaticamente que irá criar mais de duas centenas de novas escolas técnicas em todo o País. Nada contra, especificamente. É realmente bom que milhares ou milhões de pessoas aprendam um ofício e habilitem-se, assim, a empregos melhores, ou mesmo a livrar-se de esmolas sociais como o Bolsa Família.
No entanto, a concentração de esforços direcionados apenas para o ensino técnico não dá o direito ao governo de encher a boca afirmando que está "melhorando a educação no País." Está, sim, formando mais operários, produzindo quase robôs humanos para suar em fábricas, lojas onde gerentes os tratam como bichos etc. Como educação, deve-se entender algo muito mais amplo. Deve-se entender, aliás, o que chegou a ser entendido até o golpe militar de 1964, quando os militares, na sua sanha avassaladora de destruir qualquer exercicío mental que pudesse levar o povo a tirar conclusões e, consequentemente, entender a situação a que estava sendo submetido, aniquilou o ensino neste país.
A filosofia - propositadamente deturpada como matéria que "não leva a nada" - foi deletada, para usar um termo moderno, dos currículos. Veio a enxurrada de "Moral e Cívica". Mas não foi só isso: aos poucos, naturalmente, a discussão, o debate de idéias, foi banido das salas de aula. Aliás, nos períodos mais horripilantes da ditadura militar, ai de quem ousasse discutir temas como liberdade, democracia etc. em salas de aula!
Aos poucos, ao longo de quatro décadas, gerações foram sendo formadas sem qualquer raciocínio crítico. Viraram decorebas do múltipla escolha, depósitos de conceitos enlatados, e começaram a "entender" que para se dar bem não é preciso saber ler nem escrever corretamente, muito menos raciocinar e ter consciência crítica. Basta sair "de boa" em matemática, decorar meia dúzia de países (sem a mínima ideia real de onde ficam nem o que representam em termos de sua estrutura política e social) e responder algumas pergntinhas medíocres em geografia. Para completar, um curso de computação. Pronto. Está formado o cidadão brasileiro. Eu disse cidadão?! Perdão, amigos, eu quis dizer está formado um operário, um dos chamados trabalhadores qualificados.
Na verdade, população pensante não interessa a nenhum governo, salvo raríssimas exceções nórdicas, de nações com populações que não passam de seis ou sete milhões há mais de um século. Para o resto do mundo, pensar é perigoso. Muito perigoso. Já imaginaram seu Zezinho, lá dos cafundós do sertão baiano, questionando conceitos, descobrindo que é humilhado quando recebe esmolas oficiais, e tendo pleno conhecimento de seus direitos como cidadão, que vão muitíssimo além do que o Bolsa Família ou mesmo um salário mínimo ou uma cisterna no quintal? Não dá, né?
Então, o que o governo atual está fazendo é coerente com o pensamento global sobre a idéia de educação. E não vamos culpar apenas Lula e ao fato de ele ser, digamos, um tanto rude, por esse tipo de atitude. Não. O letradíssimo FHC também manteve a educação na obscuridade, como o fizeram seus antecessores, seguindo direitinho a cartilha herdada dos militares.
Além do quê, fôssemos um povo letrado, culto, bem informado, e todas as religões perderiam adeptos em massa, sendo as emissoras de TV obrigadas a reformular totalmente a programação imbecilóide e alienante que hoje faz a festa da maioria das famílias dos lares brasileiros. E nem só programação de TV mudaria. Aos poucos, iríamos exigindo cada vez mais os nossos direitos e terminaríamos, terrivel crime, enxotando os políticos ladrões (pleonasmo?), os governantes mentirosos e corruptos e permitindo, até, suprema igonomínia, o beijo proibido no Igautemi de Salvador!
Vade retro, satanás da cultura e boa educação, devem estar dizendo agora aqueles leram esse comentário e comungam com a cartilha (sem trocadilho) do sistema.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
é como diz o velho ditado popular: pimenta no terceiro olho, mesmo sendo cego, arde!!
ResponderExcluir