sexta-feira, 10 de abril de 2009

Dois filmes para a família na Semana Santa

Tony Pacheco


Em plena Semana Santa, com toda a família reunida para celebrar o Senhor Morto em volta de muita moqueca de vermelho e caruru, nada melhor do que dois filmes que mostram as delícias dos relacionamentos familiares.




“Parente... é Serpente” (Parenti Serpenti)
Itália - 1992, 96 min


Uma típica família italiana se reúne na casa da nonna para a ceia de Natal. Separados pela distância e estilos de vida diferentes, tudo transcorre em clima de festa. No entanto, as verdadeiras personalidades de cada um dos irmãos vão sendo expostas e minam, aos poucos, o clima festivo. Há, por exemplo, a irmã hipocondríaca e intrometida; a outra é frustrada por não ter filhos, e um dos casais tem uma filha adolescente e comilona que sonha ser bailarina, não falta o “gay oficial” da família. O que resta da fraternidade familiar vai por água abaixo quando o velho casal anuncia que quer morar com um dos filhos. A partir daí, começa um autêntico jogo de empurra, já que ninguém quer arcar com a responsabilidade. Assim, o mestre italiano Mario Monicelli, que dirigiu clássicos como “O Incrível Exército de Brancaleone”, destila seu humor cáustico e corrói a base da família tradicional italiana, numa comédia para se rir e refletir.
Elenco: Alessandro Haber, Marina Confalone, Cinzia Leone, Eugenio Masciari, Monica Scatinni, Paolo Panelli, Pia Velsi, Renato Ceccheto, Tommaso Bianco
Direção: Mario Monicelli
Gênero: Comédia
Extras: Menu Interativo Animado, Seleção de Cenas, Acesso Direto às Cenas, Seleção de Idiomas, Ficha Técnica, Curiosidades, Biografia do Diretor, Filmografia do diretor.
País: Itália
Formato de Tela: Fullscreen
Áudio: Dolby Digital 2.0





“A Rainha Margot” (La Reine Margot)


Este filme trata dos conflitos na família real francesa no séc. XVI, e mostra quão ingênuas e mal-intencionadas são as definições de família que nos tentam impingir. Quando os interesses aparecem, não tem mãe certa nem filhinho do papai que se sustente.

Aqui, um resumo de Arthur Prado Netto comentando o caso "A Rainha Rainha Margot". Vamos lá.

“Psicanálise e História

"É apenas após o reconhecimento do historiador pelo que a psicanálise tem de potencial para explicar o comportamento grupal e a interação contínua entre mundo e mente, que ele pode sentir-se pronto para incorporá-la aos seus métodos de investigação e integrá-la à sua visão do passado."
(Peter Gay)

“Um dos acontecimentos que nos fazem pensar na ação do inconsciente no curso da história é o da "Noite de São Bartolomeu" e de toda a conjuntura que lhe é contemporânea. E o que pôde suscitar essa reflexão foi a análise de um filme que, não obstante esteja nos limites do ficcional e do não-ficcional, possui um forte sentido histórico. Tomemos como exemplo, agora, o filme “A
Rainha Margot”, vislumbrando mesclas do contexto histórico e psicanalítico dos fatos evidentes nos primórdios da Idade Moderna, quando a Europa convivia com a ascensão da burguesia e com a consolidação do absolutismo. Baseado no livro de ficção “La Reine Margot”, de Alexandre Dumas, publicado em 1845, o filme traz uma versão realista da história, revelando a psicologia das personagens, seus atos e gozos sexuais desregrados.

“Durante o século XVI, precisamente no ano de 1572, católicos e protestantes se enfrentavam em uma guerra civil intermitente. Nesse contexto, a rainha Catarina de Médici e Jeanne D’Albert, com o objetivo de consolidar a paz e estabelecer uma aliança entre os Valois (protestantes) e os Bourbons (católicos), firmam o casamento de Marguerithe de Valois e Henri de Bourbon (rei de Navarra).
“Numa visão psicanalítica, a família real sofria a ausência da Lei de Interdição (ou seja da Lei do Pai). A figura materna, ora representada por Catarina, vivenciava uma relação incestuosa, uma vez que não havia a presença do Pai (aquele que controlaria as pulsões sexuais), representando uma "mãe-fálica", aquela que exerce uma postura forte no exercício do poder, acarretando a ausência do "feminino". Entretanto, ela alimentava uma forte ligação com seu filho, Anjou, que faz extrapolar o limite do Édipo imaginário, exercendo o amor incestuoso e real. Há também comportamentos sexuais perversos dos sujeitos masculinos; tratando-se de uma outra estrutura (a "perversão"), na qual o desejo é tomado de modo diferente na sua dialética com o falo, ou seja, o desejo é colocado como imperativo de gozo ( um "imperativo superegóico").
“O amor , no contexto real da corte, era algo que não se podia demonstrar, um meio fácil de poder atingir o outro através do sujeito apaixonado. Toda liberdade que se tinha disponível para o sexo entrava em contradição com a forma de amar, pois o amor só poderia existir no âmbito familiar. O personagem La Mole, por exemplo, sempre insinuou a beleza e a liberdade do amor em Navarra, visto que, naquele reino de poder, era perigosa a relação amorosa entre ele e Margot, sendo este sentimento comparado à morte (a forma encontrada para destruir alguém). Outro momento importante no filme que representa o que afirmamos acima é o que trata do amor de Henri de Bourbon por Charlotte, que no decorrer da história só não lhe trouxe a morte devido a interferência de Margot que o salva do beijo envenenado e afirma: "aqui não se pode demonstrar a quem se ama; esta é a forma que eles acham para te destruir, com quem se dorme". Seria o amor sinônimo da morte?
“Margot encontra-se perdida entre o seu casamento imposto e as questões graves refletidas no "feminino". Seu comportamento sexual predominante é o de se oferecer como objeto, a exemplo do ocorrido em sua noite de núpcias — ela doa-se ao seu amante e diante da frustração obtida pelo "não", sai às ruas numa "busca de homens", assumindo um comportamento sexual, em geral, masculino: o da procura, da caça ao prazer. Ela aparece entre o "masculino" e o "feminino", consequência de pertencer a uma família de homens com estruturas homossexuais. Parece que é interdita redimida ao amor, até que se apaixona por La Mole (protestante), ao qual se entrega, a princípio apenas como objeto de prazer. Entretanto, o verdadeiro amor transforma-a em "sujeito", em alguém apaixonada e capaz de enxergar os limites e as contradições de sua família, confrontando-se, então, com sua mãe e evidenciando o ódio entre ambas. O amor a retira da posição de objeto desvalorizado no qual o gozo assume a dimensão permanentemente masoquista e a torna sujeito, pois a metáfora do amor exige também a posição de sujeito desejante. Dessa forma, Margot tem vislumbres de algo do real que outrora não identificava em sua relação com os irmãos.
“Apenas distante da família, Margot poderia amar. A morte de La Mole traz a dimensão do seu amor ao nada, assumindo, ao final, a forma de fetiche: a cabeça do amado é preservada, conservada, fetichizada como objeto significante do desejo. E então, ela parte para Navarra, onde lhe seria permitido amar. A incriminação de La Mole por Catarina traz o preço a ser pago por ela ter violado a "lei do amor", pois se tornara sujeito imperativo, acentuando, como já foi dito, a rivalidade e o ódio entre ambas. Tal ódio é demonstrado claramente pelos atos de Catarina que desejava, a todo custo, destruir a feminilidade de sua filha.
“O Rei Carlos IX apresenta, como todos os irmãos, uma carência paterna intensificada, percebida em sua relação com Coligny e, posteriormente, com o seu cunhado Henri de Bourbon (apresentando traços de homossexualidade). Encontrava-se diante do poder supremo, e o seu amor por Marie era algo velado, sendo apenas revelada a existência de sua amante e filho bastardo a Henri de Navarra no instante em que se estabelece uma grande amizade entre ambos.”

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