sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Três Bombons e Uma Bomba - VII

"Um Sonho Possível" é uma história real. Incrível, mas é real.

tOny pAcheco


Gosto de filmes que me divirtam (em primeiríssimo lugar) e me tragam algum conhecimento extra para que eu possa refletir sobre o mundo e minha vida. Nesta semana há dois assim.

OS BOMBONS

1. "Um Sonho Possível" (The Blind Side), direção de John Lee Hancock, com Sandra Bullock (quase irreconhecível, pois está quase nada canastrona num papel revelador do seu talento), Quinton Aaron (o negro que faz o papel do jogador de futebol americano) e a aparição absolutamente rouba-cena de Kathy Bates, que eu comparo o desempenho cênico com a brasileira Teresa Raquel: basta aparecer, sem falar nada, que já rouba nossa atenção.
É uma história de autossuperação, tema muito querido dos americanos. Um menino negro pobre, com mãe sacizeira (viciada em crack), encontra uma peculiar forma de se livrar do mundo cruel: ele fecha os olhos toda vez que vê uma coisa que possa fazê-lo desacreditar nas pessoas. Quem ensinou isso a ele foi a mãe, para que ele não a visse fazendo sexo por dinheiro ou por droga.
Há um ponto no filme, entretanto, que quero chamar a atenção: a extrema pobreza de pelo menos 50 milhões dos 311 milhões de americanos. O filme confirma o que vi em minhas duas viagens aos EUA: uma maioria (aqui, no Brasil, é uma minoria) que vive de bem a extremamente bem, e uns 12% da população que vivem extremamente mal. A personagem principal, Aaron, é parte destes miseráveis. Veja a indigência que é a vida nos subúrbios das cidades americanas: aqui, no caso, Memphis. Vejam a cena do serviço público de lá: pior que o nosso. Ou igual. Os EUA são a sucursal do inferno para uma parte de seu povo. Confira!
Cotação: **** (4 de 5 estrelas possíveis)

2. "Tempo de Violência" (Harsh Times), roteiro e direção David Ayer, com Christian Bale (um ator fantástico, que, aqui, também é produtor executivo) e a linda dona-de-casa desesperada Eva Longoria (de "Desperate Housewives", da TV fechada). Christian Bale é um ex-fuzileiro naval americano sociopata, com traumas de sua participação na Invasão do Iraque. Volta aos EUA querendo fazer parte dos órgãos de repressão ao tráfico de drogas. Mas é usuário de maconha (tão previsível, não é mesmo?). Ele tem um amigo mexicano, vivido pelo ator Freddy Rodriguez. Resumo: veja, novamente, como uma sociedade capitalista altamente competitiva e excludente pode produzir filhos aterrorizantes. Imperdível!
Cotação: ***** (5 estrelas)

3. "Três é Demais" (These Girls), com David Boreanaz (sim, aquele homenzarrão bonito que era vampiro na TV fechada e hoje é investigador policial em "Bones"). Direção de John Hazlett. É uma comédia superinteligente sobre a nova moral sexual aqui do Ocidente. Boreanaz é casado, tem uma filha e vende maconha para sobreviver. Sua mulher precisa trabalhar até 3 da manhã e ele precisa de uma babá. Contrata uma adolescente e, claro, começa a transar com ela. Duas amigas da moleca descobrem e transam com ele também, tudo sob um pacto feminino de dividir o homem pelas quatro: ele fica exausto. Cansado, o homão arma para se livrar delas. Tudo dá certo. E dá errado. Como na vida real. Você vai rir ao se ver na tela (ou ver seus amigos e conhecidos).
Cotação: *** (3 estrelas)

UMA BOMBA

"A Jovem Rainha Vitória" (The Young Victoria), direção do genial Martin Scorsese de "Taxi Driver", com atores não muito conhecidos, talvez com a exceção de Miranda Richardson. Trata dos primeiros 20 anos do reinado de Vitória, a rainha superconservadora da Inglaterra. A falha básica do filme é a inverossimilhança. Isto é, é, historicamente, mentiroso. Primeiro, Vitória deveria ser representada por uma atriz bem feia, pois ela era uma bozenga. Depois, a questão do autoritarismo de Vitória não foi bem explorada: era uma pessoa intolerável, muito mais do que o filme mostra e não há registro de que fosse uma pessoa risonha como no filme. Mas é muito bem realizado e vale por uma frase que eu dedico a Ricardo Líper: "Os médicos franceses matam os seus pacientes. Os médicos ingleses deixam os pacientes morrerem em paz." Se você abstrair a verdade histórica, vai gostar. Se não, vai odiar.
Cotação: ** (2 estrelas).

Um comentário:

  1. Não concordo, Toni. Gostei demais do filme da Rainha Vitória, mulher inteligente corajosa e se era feia, quem não e' feio pra alguem?

    Cíntia

    ResponderExcluir

Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.