Lendo o jornal com olhos críticos

Assim, igual ao Trapiche, pode: todo mundo branco, todo mundo rico (ou endividado até o pescoço), pode ocupar a praia e até o mar (sic). A Justiça Federal aprova, a Marinha também, os governos e os "pralamentares". Agora, preto e pobre, para as "ôtoridades" é pra ficar na periferia, escondido.

tonY pacheco

Resolvi fazer um exercício gostoso hoje. Depois que o “Jornal do Brasil” em papel parou de circular, ontem, e bandeou-se para a Internet (ainda bem, no meu entendimento), ler um jornal inteiro para analisar a superficialidade como são abordadas algumas notícias é interessante.

Experimente fazer o mesmo com seu jornal preferido. Talvez você mude de preferência...

1) O BARRACO DAS BARRACAS

Leio que a prefeita de Lauro de Freitas conseguiu na Justiça que as barracas de praia no seu município continuem. Mas o repórter não foi a nenhuma repartição da Justiça da União em Salvador para procurar saber o porquê da derrubada na capital e manutenção em Lauro.

Também não há na matéria a discussão de limites entre Salvador e Lauro. Pelo que se sabe, Ipitanga é uma praia que pertence a Salvador e que, “misteriosamente”, continua sendo administrada por Lauro de Freitas.

O jornal também não mandou o repórter a Ipitanga. Eu estive lá no último domingo e a barraca que está na fotografia do jornal já está sem telhado. Só vi duas barracas ainda inteiras. Então, a notícia é 90% falsa, pois os barraqueiros já se anteciparam e estão destruindo seus empreendimentos.

Jornal feito só na Redação dá nisso.

E também se "esquece" do Iate Clube, do Soho, do Trapiche, construídos não na praia, como as barracas, mas EM CIMA DO MAR. Mas pra rico, pode. O problema é o capitalismo que é um sistema irremediavelmente corrupto, racista, segregacionista e injusto. Enquanto houver capitalismo jamais haverá felicidade para barraqueiro ou qualquer outro tipo de gente que não esteja no poder. Isso você não lerá no seu jornal. Ponto.

2) DESEMPREGADO TENTA SUICÍDIO

Esta foi emblemática. O paraíso na Terra chamado Lulalândia (antes conhecido como Brasil e, antes ainda, Terra de Santa Cruz), continua com estes elementos que insistem em desmentir o novo Deus.

O sujeito tem filhos pra cacete, justamente incentivado pelo Bolsa Família inventado no governo FHC/PSDB e levado às últimas consequências por Lula/PT, que dá mais a quem tem mais filho (90 reais, em média, por filho, uma miséria, uma mi-sé-ri-a). Depois perde o empreguinho de 510 reais por mês e entra em pânico. Bebe, fuma, cheira, briga, se desespera. E o governo do paraíso em que vivemos deitando falação que estamos no Primeiro Mundo. Só se for Primeiro Mundo dos Infernos.

3) SUPERCLUBS DEIXA SAUÍPE

Na verdade, se o editor tivesse o mínimo de discernimento, o título da matéria deveria ser: “O FRACASSO DE SAUÍPE”. Sim, porque o megaempreendimento construído na Linha Verde (ligação Salvador-Aracaju), só deu dinheiro para os empreiteiros que o construíram. Nunca teve ocupação expressiva e só deu prejuízos aos pensionistas do Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. Aliás, quem administra o Previ devia ser preso por gestão temerária de recursos que não lhe pertence. Mas isso o repórter não pesquisou.

4) MAIS DE METADE DOS BRASILEIROS ENDIVIDADA

A notícia vem do insuspeito (até agora) IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. São 54% envoltos em dívidas, em média, de 5 mil reais.

Mas o jornal não aprofundou: as condições deste endividamento são trágicas, pois o brasileiro acredita no sonho da Lulalândia, num otimismo baseado em propaganda na TV. Os brasileiros, ao contrário de grande parte dos povos do Primeiro Mundo, não têm ESTABILIDADE NO EMPREGO, uma exigência da OIT – Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil faz parte, mas, curiosamente, embora administrado por um Partido “dos Trabalhadores”, não adota a convenção da OIT que proíbe demissão sem justa causa. É assim que se formam as “bolhas de crédito”, como a bolha imobiliária americana que quase leva o mundo ao caos em 2008. As pessoas devem porque os governos e os empresários estimulam o endividamento sem que as pessoas tenham a menor segurança de terem emprego e renda para honrar suas dívidas. Um dia, todo mundo resolve parar de pagar e, aí, a vaca vai pro brejo e o Estado é obrigado a salvar banqueiro, dono de fábrica de automóveis, estes “pobrezinhos”...

Pronto, é isso aí. Algumas coisas doidas que deveriam ser interpretadas não o são, pois os jornais estão abrindo mão de sua função, daí estarem sendo fechados, como aconteceu ontem (31.08.2010), com o “Jornal do Brasil”.