Operação sai de baixo

Alex Ferraz

As embarcações do sistema ferry boat, gerido pela empresa TWB, não têm médicos a bordo. Quando muito, oferece um treinamento de primeiros socorros a alguns funcionários. Questionada sobre não ter atendimento médico profissional a bordo de suas embarcações, a TWB responde, laconicamente, que "a Capitania dos Portos não nos obriga a isso".

O pier de atracação de Morro de São Paulo, paradisíaca ilha no mar da Bahia, ficou congestionado no último feriadão, quando lá ocorreu um festival de música, com grande público. Houve a disputa - selvagem, naturalmente - para ver quem atracava primeiro com suas lanchas, na hora de retornar ao continente, e o pau quebrou, acabando com uma criança ferida e por pouco não ocorrendo uma tragédia. Quando questionada sobre o péssimo atendimento naquele momento, com sua embarcação oficial, a TWB disse que não tem nada a ver com a administração do pier e nada pôde fazer, portanto.

Então, fica assim: coloco meus navios para navegar, mas não tenho nada a ver se alguém morrer dentro deles por falta de atendimento médico profissional (embora eu transporte milhares de pessoas, todos os dias) e que se danem os que foram a Morro e ficaram a ver navios (êpa!) porque não consegui atarcar meu barco, já que não tenho nada ver com a ponte de atracação.

Salvo engano, vejo aí uma operação de sistema pela metade, não bastassem os abusos constantes, principalmente nos feriados prolongados, devido a embarcações quebradas, embarque em Savador que mais parece fila para as câmaras de gás nazistas e caos completo em Bom Despacho, no retorno, quando se espera duas, três, quatro, cinco horas ou mais em torturante fila de automóveis.

Mas como, provavelemnte, nenhum item do contrato deve rezar que a TWB atenda bem, então eles também não têm nada a ver com isso.

É, enfim, a eterna operação sai de baixo que caracteriza nossa sociedade. E o deboche pelo público a quem se presta serviço, como se não fosse esse público a razão de ser da empresa, exatamente sua fonte de lucro.

Vejam ainda exemplos como supermercados e bancos. No caso dos supermercados, a rede Walmart - conhecida no seu país de origem, EUA, por praticar um capitalismo selvagem (e há o que não o seja?), tratando mal clientes e pessimamente seus funcionários -, que controla o Bompreço, não disponibiliza empacotadores porque entrou com liminar na Justiça contra a lei que obriga a isso, liminar esta concedida por algum juiz que jamais fez compra num inferno daqueles, e em vigor há anos.

No caso dos bancos, enquanto os clientes VIP são atendidos com cafezinho, água mineral, poltrona etc., a grande massa se desespera em enormes filas, já que os banqueiros ignoram a lei que obriga a atender em no máximo 15 minutos. E como não devem ter dinheiro suficiente para ampliar seus caixas...

Leis inúteis, festival de liminares e uma sádica vontade de atender mal (!!) por parte dos administradores de tais empresas. Uma combinação que contribui para tornar ainda mais quente o inferno que é a vida do cidadão comum nestas plagas.