Chapa-branca: a mídia comprometida

Joelmir garante: Jesus existe, Krishna existe. É o jornalismo descobrindo é coisa...




tony pachecO

Jornalista comprometido já se tornou tautologia no Brasil e na Bahia, então, nem se fala. Mas alguns casos chegam a ser irritantes.

Vejamos dois casos recentes:

1. O RELIGIOSO - Na última terça-feira, enquanto o mundo científico se refestelava na informação de que o acelerador de partículas da Suíça finalmente fez uma experiência que deu certo no caminho da compreensão de como o Universo apareceu, principalmente, a matéria no Universo, o jornalista Joelmir Betting tomou de assalto o Jornal da Band na TV para informar ao distinto público que a experiência era uma "prova de que Deus existe".

Sr. Joelmir, Deus existe. Claro que existe. Se está na cabeça de várias pessoas, existe. Coelho da Páscoa também existe, na medida em que milhares de crianças mundo afora acreditam piamente nele e, mais, o vêem, falam com o Coelhinho.

Lamentável que jornalistas que fizeram um nome duramente conquistado joguem seu final de carreira no lixo desta maneira (sem nenhum demérito para o lixo kkkkkkkkkkk).



2. O CEGO, SURDO E MUDO - A mídia amestrada baiana comemorou o aniversário de Salvador na segunda-feira como era esperado dela, toda dependente de anúncios oficiais. Nem rádio, nem TV, nem blogs, nem sites de notícias, muito menos os jornais impressos fez um levantamento das misérias que transformaram Salvador numa sucursal do inferno: de cada 10 cidadãos soteropolitanos, 7 moram em áreas degradadas. Nenhum órgão da mídia se dispôs a fazer um vôo de helicóptero pela cidade para ver a desgraça em que se transformou Salvador a partir da Lapinha, passando pela Liberdade, Largo do Tanque, Fazenda Grande, São Caetano, Pirajá, todos os bairros da Suburbana, Águas Claras, Calabetão, Palestina, Castelo Branco, Pau da Lima, Cajazeiras, Mata Escura, Mussurunga, São Cristóvão, Km 17, Malvinas, Saramandaia, São Gonçalo, Calabar, Alto das Pombas etc. etc. etc. etc. Eu perdi o amor a 400 reais e fiz este vôo. É estarrecedor. É pior que ficar em cima de trio elétrico do Chiclete no Carnaval: só se vê miséria.
Mas a mídia amestrada não tem 400 reais. Não.
Jornalistas e veículos só viram o Circuito Helena Rubinstein, que vai da Marina da Contorno até Itapoan. A Salvador do oba-oba, do acarajé, das baianas trajadas de branco, olêlê, olálá!
Insegurança, violência, bairros inteiros administrados por quadrilhas de traficantes, impossibilidade de andar nas ruas à noite, desemprego crônico que arrasa vidas de mais de 400 mil pessoas, nada foi mostrado.
É, assim, nem precisa de Diário Oficial, TV Brasil, TV Educativa e outros órgãos oficiais. A mídia só vê os problemas sociais se puder aproveitá-los para ganhar dinheiro com anúncios (caso dos programas de desgraças dos pobres).

Em Tempo, como dira meu amigo Alex: o jornal A TARDE, a bem da verdade, foi o único veículo da mídia baiana que publicou uma foto das favelas de Salvador no dia 29 (a ocupação irregular das encostas que compromete o futuro de toda a cidade) e tocou em alguns problemas. De leve, mas tocou.

Errei feio: escrevi no post que era Boris Casoy que tinha dito que descobriram a prova da existência de Deus. Mas foi o Joelmir Betting. Obrigado ao Anônimo que corrigiu meu erro brutal. Bem, nem tão brutal assim. O Boris não gosta de lixeiros (a rua dele deve ser uma imundície só kkkkk) e o Joelmir acredita que tem provas da existência de Deus. Os dois se merecem.