segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"A Onda" - Quando o cinema pensa


O autoritarismo sempre leva ao caos

Ricardo Líper

É um filme alemão. Roteiro muito inteligente. Ouvi falar que se baseou em um fato real. Um professor, simpatizante dos anarquistas, não consegue dar aulas sobre anarquismo e é levado a assumir aulas sobre autocracia. E assim faz os alunos compreenderem o que é um grupo autoritário, ditatorial. O que seria uma série de aulas durante uma semana se transforma em um movimento fascista com as consequências de brutalidade que sempre é comum no fascismo. O filme é muito bem realizado. Não chateia. Não é acadêmico. Não visa mudar a linguagem cinematográfica. Entretanto cabe-se perguntar: por que um grupo de alunos se sentiu tão atraído por uma proposta dessa?
Penso que o liberalismo, associado ao individualismo, gera pessoas muito doidas, em todos os sentidos, levando a um vazio depressivo. Surge o individualismo exacerbado, os egos inflados, as ofensas e mesquinharias. O droguismo. Enfim, perde-se o conceito de grupo, disciplina, tudo enfim.
Quando estas pessoas se sentem pertencendo a um grupo, tendo solidariedade e organização defensiva delas próprias, elas se encantam. A porralouquice cansa. O ideal é que existissem anarquistas mais disciplinados, mais solidários, mais... enfim... Tudo cansa muito... A questão é mais complexa. Não é só a polarização fascismo e autoritarismo versus liberalismo e anarquismo.
Não deixem de ver essa rara oportunidade onde o cinema pensa.

4 comentários:

  1. Sr. Ricardo Líper, recomendo a leitura do ótimo texto do Poeta Fernando Pessoa intitulado "O Banqueiro Anarquista", escrito em 1922. É muito interessante, divertido e esclarecedor. Recomendo a todos que se interessam pelo tema do Anarquismo. Mas é preciso ser lido sem preconceito. O texto pode ser encontrado no endereço http://www.dominiopublico.gov.br. Você pesquisa Fernando Pessoa e vai ver lá na lista o texto de número sete. Leia com atenção e se achar que é o caso, comente.
    Ass: Um admirador de Fernando Pessoa que não é banqueiro nem anarquista.

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  2. A questão é saber quão complexa é a questão, mas isso é muito complexo e cansa. Deixa pra depois, da revolução anarquista, da mudança, da ausência de estado. Mas sem estado tem o quê? Tem o grupo, com sua disciplina, com sua moral. Sempre achei que o anarquismo fosse isso, um tipo romântico de moralismo.

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  3. Revolução anarquista? Ausência de Estado? E desde quando anarquistas fazem revolução? Pelo que sei faz muito tempo que os "anarquistas" abandonaram qualquer tentativa de fazer revolução. Os anarquistas revolucionários do passado viraram comunistas. E os do presente, se é que existem, são pequenoburgueses sem nenhum compromisso social. São "libertários" que só pensam NELES, que vivem em função APENAS do bem estar DELES. Quanto ao texto sugerido pelo adimirador de Fernando Pessoa, quero agradecer a dica. Muito bom mesmo, vale a pena ler. Agora, é aguardar o comentário do professor de filosofia que gosta de fazer comentários sobre cinema neste blog. Será um desafio e tanto. Com a palavra Ricardo Liper.

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  4. Do filme A ONDA, que assisti já faz muito tempo, guardo na memória a tese demonstrada: é possível manipular multidões, basta que se saiba operacionalizar técnicas que incidam sobre a fragilidade da subjetividade dos homens.

    O filme demonstra que o lado frágil da subjetividade humana é a faceta que aflora quando o sujeito sacrifica a capacidade de raciocinar e passa a aceitar proposições sem exigir provas ou a mínima plausibilidade, os dogmas.

    Demonstra também a tese do filme que as organizações secretas místicas ou supostamente laicas são já em si instrumentos de manipulação para a veiculação de doutrinas autoritárias pois a natureza conspiratória obsta a análise e facilita a fixação dos dogmas e o sacrifício da racionalidade.

    Evidencia A ONDA também que os ritos e os símbolos podem ser também instrumentos de veiculação dos dogmas autoritários verificada a facilidade com que por estes meios eles são impostos e como facilmente por eles manipula-se condutas e atitudes.

    Patenteia a tese demonstrada no filme que explorar - com os fins de manipular as condutas -, sentimentos de ódio, sentimentos de inferioridade, frusrações ou sentimentos de suposta superioridade se torna fácil quando se sabe o ponto frágil da subjetividade: o sacrifício da capacidade de pensar sobre bases racionais e demonstráveis, provas.

    É por esta lacuna da subjetividade, o lado irracional, que se pode contrabandear para a pauta de crenças e valores do indivíduo como se verdade fosse proposições que não se amparam sequer em evidências mínimas.

    Apelar para os sentimentos de crueldade agitando preconceitos, dogmas, explorar a ignorância e os sentimentos atávicos como o instinto de sobrevivência, o medo e o sentimento de grupo ou rebanho é uma fórmula infalível para a manipulação da maioria e das multidões.

    Da apelação para o sacrifício da racionalidade se valem todas as doutrinas autoritárias, inclusive doutrinas políticas como o marxismo-leninismo e o fascismo, ou simplesmnete místicas como a sopa de letras de Paulo Coelho ou de Edir Macedo.

    Pensar é um trabalho, pois há dispêndio de energia, mas raciocinar e não sacrificar a racionalidade é o passo inicial para sermos livres e não manipulados.

    Porque pensar é um trabalho e cansa, não tenho dúvidas que a maioria é composta de escravos por vocação e por preguiça; escravos e manipulados nem que seja para o cometimento de "pequenas' injustiças, ad exemplum, repetir mentiras e injúrias.

    Prabenizo o profº Ricardo Liper pela provocação do debate embutida na sugestão do filme. Sem dúvidas, o filme a a provocação para assisti-lo são muito oportunas.

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Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.