terça-feira, 12 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Ricardo Líper

Volto a insistir. Não julgue "Tropa de Elite 2" sem assistir. Vá assistir antes e chiar ou não depois com o meu comentário. Deixe de cretinice e preconceito. Tire férias do oba-oba Maria vai com as outras. O filme é importantíssimo. Ele mostra que por detrás da matança, Brasilino, estão os políticos, espertalhões. Eles aproveitam e se fazem. Que os mecanismos de poder, incluindo os que têm as armas e fazem o trabalho sujo, fazem tudo por dinheiro. Essa denúncia é fabulosa. É real. Mostra a realidade nua e crua. É um filme de esquerda. Profundamente engajado. Não é esquerda oportunista que transforma o discurso de esquerda em vamos todos nos armar fechando os olhos às maiores atrocidades. Ou melhor. Eu "como-nisto". Esquerda infantiloide, débil mental, medrosa, que sou rejeitou Stalin quando ninguém mais acreditava nele. E é por isso também que estamos como estamos.
"Tropa de Elite 2" lembra o filmes de Costa-Gavras, um dos melhores diretores a serviço da verdade e dos oprimidos da história do cinema. Eu assisto seus filmes ajoelhado e fico com as mãos doendo de tanto bater palma no final. Prêmio para o ator que intepreta o apresentador de televisão em "Tropa de Elite 2". O povo delira no cinema. O povo sabe das coisas, não se iluda. O brasileiro sabe quem é descarado. Tolera porque não tem jeito, mas que sabe, sabe. Eu ainda acredito no populacho. Gostaria muito de ver o dia do linchamento geral dos verdadeiros manipuladores de marionetes. O nosso 1789. "Tropa de Elite 2" e "O Bem Amado" deveriam passar nas escolas. Depois aplaudidos por todos em pé encerrando com o Hino Nacional porque esse país e o nosso sofrido povo não merecem que vivamos nessa pocilga resultado de governos inconsequentes sucessivamente fazendo desmandos, destruindo toda qualidade de vida possível ao longo desses últimos 50 anos.

5 comentários:

  1. Assisti ao filme "TROPA DE ELITE 2" e constatei que é muito bom mesmo, merecendo ser classificado como excelente. O desempenho dos atores é realmente convincente, os diálogos primorosos e expressos na linguagem de quem conhece o ambiente do submundo da polícia, o ritmo da ação é envolvente, enfim, o produto final tem muita qualidade.

    O professor de estética Ricardo Liper há muito dizia que era possível fazer cinema nacional de qualidade bastava que os diretores utilizassem uma signagem naturalista, estórias com início, meio e fim - uma coisa para ser compreendia por pessoas normais - e não delírios caóticos, uma signagem arbitrária e sem nexos, incompreensível até mesmo pelos que faziam os filmes.

    Um diretor de cinema americano ao visitar o Rio de Janeiro disse que tínhamos tudo para fazermos ótimos filmes, uma paisagem belíssima, estórias de traficantes e políticos corruptos, enfim todos os ingredientes para um bom enredo.
    Adiciono a tudo isto o desejo de o povo brasileiro ver-se na tela, ver seus atores preferidos e a paisagem de seu país, afinal algo que lhe seja familiar.

    Contudo, do filme "TROPA DE ELEITE 2" retiro conclusões um pouco diferentes das do professor de estética Ricardo Líper. Se ele permitir a minha discordância e não partir para a agressão - deixando de lado seus princípios anarquistas - vou expor a minha interpretação.

    O ideal era assistir o filme mais uma ou duas vezes para afastar algumas dúvidas, mas como não sou crítico de cinema nem professor de estética apresentarei minha interpretação só tendo assistido somente uma vez.

    O Capitão Nascimento no "Tropa ... 2" já é Tenente-Coronel e não está mais na parte operacional da polícia, e por uma das reviravoltas da política, sempre ela, vai para a cúpula da Secretaria de Segurança Pública. Mas ainda assim, o filme começa mostrando o Capitão Nascimento matador e torturador, o homem que mandou muitos vagabundos para a vala, leia-se traficantes pobres do morro, e que "missão dada é missão cumprida".
    Este slogan, "missão dada é missão cumprida", é uma das formas pelas quais os comandantes buscam inculcar pela repetição nos subordinados em formação, o cumprimento de suas ordens sem objeções. A direita enquistada nos quarteis busca também por este meio obter dos nossos policiais e militares o desrespeito à lei, o cumprimento de ordens sem observar sua legalidade.
    Omitem os comandantes para os subordinados que eles têm o dever de não cumprir ordem dos superiores se o ato a ser praticado for manifestamente criminoso ou haja excesso nos atos ou na forma da execução, conforme está previsto no § 2º do art. 38 do Código Penal Militar, Decreto-Lei Nº 1.001, de 21 de outubro de 1969. Em caso de dúvida sobre a natureza da ordem deve o militar pedi-la por escrito.

    O novo posto de Nascimento é o principal fator da mudança de sua percepção da função policial na qual foi doutrinado. Ele descobre o óbvio: "- Quem mata é o sistema da PM, do comando à Justiça. O matador só aperta o gatilho."( Estas são palavras de Otávio Ribeiro, o "Pena Branca", no livro ROTA 66 - A HISTÓRIA DA POLÍCIA QUE MATA, de Caco Barcelos, p. 264, repetidas quase literalmente por Nascimento).

    (Continua)

    ResponderExcluir
  2. (Continuação)

    Nascimento descobre que quem dá as ordens é quem tem o poder, o Governador e seu Secretariado, no caso das polícias estaduais. O soldado Nascimento, apolítico ignorante, inimigo dos Direitos Humanos, passa a perceber que o crime de corrupção que viceja na polícia, que ele chama "sistema", busca se infiltrar na política e no Estado para se manter e se espraiar.

    Na polícia - qualquer das polícias - todo mundo sabe quem é quem, os matadores sabem quem são os corruptos e os corruptos sabem que são os matadores. No filme existe o Batalhão dos Corruptos e os "Caveira", o BOPE. A direita baba tentando justificar os crimes dos matadores sob a alegação de que são honestos, como se esta condição lhes desse o direito de sair por aí assassinando cidadãos, mesmos os delinquentes.

    A politização do herói é o principal acontecimento do filme. Nascimento deixa de ser um sujeito primário para entender que é na política que acontece a luta entre os valores e o desvalor, entre os princípios e sua negação; percebe que é nas entranhas do poder que se toma as decisões que repercutem nos destinos da sociedade, isto é, que qualquer decisão individual tem pouca ou nenhuma repercussão.

    No final não fica muito evidente a conclusão do ex-soldado politizando-se: se a sua repulsa pela política, que também tem seu submundo, seu Batalhão de Corruptos, ou se ele aceita que é na política que se decide os destinos de uma sociedade, se concorda que é a política que manda no mundo e que quando você não participa outros escolhem por você e podem usar o poder para fins escusos, o que ocorre também quando ocorre a escolha da pessoa errada para o cargo errado.

    Possivelmente a dúvida tenha sido posta de propósito pelo diretor para permitir a discussão e mais de uma interpretação. O professor Ricardo Liper, pelo que percebo, escolheu a interpretação que se pauta pela repulsa do herói pela política.

    Eu escolho a segunda interpretação e arrisco um palpite: pelo sucesso do filme vai haver um "Tropa... 3" com Nascimento entrando para a política e se candidatando - se pela esquerda ou pela direita, eis outra discussão, possivelmente o diretor mesclando as posições - descobrindo mais bandalheiras, mas também uns poucos cidadãos de bem, e a crueza da natureza humana corrupta e má estampada também no cidadão eleitor.

    ResponderExcluir
  3. Comentário tão bom quanto o texto. Aqui se vê que lê e quem escreve.Parabéns mesmo!

    ResponderExcluir
  4. ói se ze tranquilino eu continuo achando que bandido bonzinho não existe e que é bom pra nossa pele ele mortinho da silva - iantes iele do que ieu.......meu chapa...............

    ResponderExcluir
  5. muito bom o filme e melhor ainda os comentarios, parabens

    ResponderExcluir

Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.