O alvo é Lula

tony pachecO

Li, ontem e hoje, na "Tribuna", duas reflexões excelentes sobre o atual processo eleitoral brasileiro. No de segunda, Merval Pereira fala sobre "Continuidade e mudança" e trata o eleitor brasileiro como um sujeito capaz de identificar Lula e sua candidata Dilma com a continuidade do processo econômico atual de que as pessoas mais pobres estão comprando mais, portanto, estão sendo mais felizes.
No comentário de terça, Hélio Schwartsman ("A cabeça do eleitor") vem com professores americanos analisando o comportamento neurológico dos eleitores e das campanhas, afirmando que há um comportamento padrão no eleitor, como nos viciados em drogas.
Ambos tangenciam, mas não batem no alvo da questão: o eleitor brasileiro confunde-se com a história do próprio Lula. Somos todos muito pobres, a maioria esmagadora dos brasileiros tem histórico de pobreza e de alguma redenção a partir do governo Fernando Henrique, radicalizada no governo Lula, que simplesmente pegou as esmolinhas dadas pelo governo FHC aos miseráveis e transformou em esmolas médias.
Lula venceu sua quarta tentativa eleitoral batendo no fato de que FHC poderia dar muito mais, mas não deu porque era mau, neoliberal, vendedor de estatais brasileiras para estrangeiros espertos. Com isso ele ganhou os mais simplórios e até a classe média.
Lula continuou, nos seus 7 anos e meio de governo, a fazer o mesmo que FHC fez, só que aumentou, efetivamente, o poder de compra de milhões de brasileiros. Mas aumentou, muito mais, a capacidade de compra de seus correligionários do PT, PCdoB, PSB e outros partidos que o apóiam. Foi um início de construção de uma nova classe dominante. Enquanto FHC era a continuidade histórica dos grupos que mandam no Brasil há séculos, Lula mantém aquelas classes dominantes anteriores (representadas aqui por empreiteiros, banqueiros, multinacionais etc.) nos seus esquemas de ganhar muito investindo pouco, mas coloca seus apaniguados em cargos públicos regiamente remunerados e ao povo dá um "upgrade" (crescimento) real no salário mínimo, lançando milhões no mercado de consumo.
Para desconstruir esta imagem de Lula, de que ele melhorou a vida de milhões, é necessário provar que ele, assim como FHC, poderia ter MELHORADO MUITO MAIS.
E mostrar que esta cobrança de impostos brutal que ele faz mais do que FHC nos salários dos trabalhadores (de salário mínimo e de salário máximo), poderia ser direcionada para diminuir o preço de tudo que se compra: de um tomate na feira até um automóvel na concessionária.
O melhor exemplo a ser usado foi o que aconteceu com a medida de Lula de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados incidente sobre geladeiras, máquinas de lavar e automóveis. Milhares e milhares de pessoas trocaram seus eletrodomésticos e automóveis velhos por novos e milhões pegaram a rebarba, adquirindo seminovos em ótimas condições.
Quem quiser derrotar Lula tem que dizer que ele deveria ter feito isso com mais intensidade, não para reduzir o número de miseráveis, mas, sim, para extinguir a miséria, como nos países europeus ocidentais, no Canadá e no Japão. Mostrar que o mesmo carro Fox que compramos aqui por 40 mil reais, é vendido no México por 20 mil reais e nos EUA por menos de 15 mil reais. Mostrar que TUDO PRO BRASILEIRO É MAIS CARO porque o governo Lula é o maior cobrador de impostos do mundo.
Se Lula não fosse o maior cobrador de impostos de nossa história (é isso que tem que ser dito), não teríamos milhões de jovens desempregados como temos, milhões de mães e pais de família que só fazem pagar contas e contar centavos no fim do mês, milhões de pessoas envolvidas no tráfico de drogas por falta do que fazer (lembrar da velhinha, aqui de Salvador, que vende crack para sustentar os netos, seria fantástico...), milhões de meninas e meninos na prostituição nas grandes cidades, milhões sendo maltratados nas filas do SUS, milhões sendo assaltados e mortos nas favelas e nas ruas das cidades etc. etc., pois nossas mazelas atuais continuam tão gritantes como nos tempos de FHC, do general Médici ou de Dom Pedro II. Só mudam as moscas, a merda continua a mesma.
Lula poderia ter feito mais, por ser de origem pobre, mas não fez. Não fez e sua candidata não fará. Este seria o discurso correto.
Ganharia a eleição quem assumisse publicamente, dando os percentuais e tudo, que DIMINUIRIA IMPOSTOS em toda a cadeia produtiva brasileira, para lançar dinheiro nas mãos da população (empresários e povo) e não nas mãos dos "companheiros", que estão se refestelando. Mas, principalmente, diminuiria o Imposto de Renda, que só pobre e remediado pagam.
Mas, para ter Lula como alvo, é necessário ter coragem e ter um plano claro para substituí-lo, pois bater nele sem dizer claramente onde ele falha e onde se pode fazer melhor do que ele, é inútil. Tem que bater e dizer claramente o que fará de melhor para todos, miseráveis, pobres, classe média e ricos, afinal, todo mundo é brasileiro.
E, finalmente, quanto aos colegas que analisam cabeça de eleitor como se ela tivesse lógica, só cito Freud: Freud proíbe, energicamente, qualquer psicanalista de sua linha ortodoxa de analisar analfabetos. O que isso tem a ver com nosso momento eleitoral? Brasileiro ainda é, em sua maioria esmagadora, pobre, desinformado e preconceituoso. Não entende mensagens subliminares.
Quer ganhar a cabeça deste tipo de eleitorado que vive vendendo o almoço para comprar o jantar?
Dê-lhe emoções reais que ele entenda. Explique de onde vai tirar o dinheiro para melhorar a vida de todos, sem exceção. Não diga só que vai fazer a vida melhorar. Diga que O DINHEIRO EXISTE, SÓ ESTÁ NAS MÃOS ERRADAS. Se complicar ou vier com boas intenções que pareçam impossíveis de serem realizadas (como Marina Silva), já perdeu...