Alex Ferraz
Cada povo tem, não só o governo, mas o país que merece. Assistindo à estreia do Brasil na Cópula do Mundo, e sem qualquer ânimo para torcer para a Seleção Canalhina e menos ainda pela ditadura da Coreia do Norte (vocês sabiam que só o governo tem acesso à internet, lá? Pois é...), mantive-me neutro, vendo a partida por puras razões profissionais, pois, como jornalista, fui incumbido de fazer alguns comentários. Galera, quase fui linchado! As pessoas à minha volta, em um bar, estranharam meu silêncio e ficaram chocadas por que eu não pulei da cadeira, aos berros de "Brasiiiiil, pôrra!", quando saiu o primeiro e suadíssimo gol.
Aí, pensei: é este o povo brasileiro. Os políticos botam pra lenhar em cima dele, roubam escancaradamente, se candidatam e recandidatam ao longo de décadas, sugam quase metade do suadíssimo salário em impostos que jamais são devolvidos sob a forma de serviços públicos, e ele, o povo, não diz nada. No entanto, diante de um jogo de futebol, seja do Bahia, seja da Seleção, mata e morre, literalmente, se necessário. São capazes, os brasileiros, de linchar quem não se enquadrar na euforia histérica, de matar o juiz que garfou seu time, de esquartejar o técnico que não soube armar a equipe, de estrangular o goleiro que engoliu um frango. Dão plantão na porta da casa do jogador que errou para ferrá-lo, mas babam o ovo do político que engabela, desdenha deles, até.
Costumo tomar umas geladinhas em alguns botecos da cidade, e observo a atenção do público presente diante do que transmite a TV: sequer olham para a tela enquanto são divulgadas notícias sobre política, economia etc. Mas ficam todos de olhar fixo na tela e ouvidos atentos diante do Globo Esporte, discutindo, exercitando teorias, fazendo críticas, dando opiniões, tentando mudar o mundo...Da bola!
Se você está numa fila de banco onde os 15 mimutos de tolerância legal já foram pro espaço e já se amargam 40 minutos, uma hora ou mais, e resolve criticar, alto e bom som, é visto como maluco e a maioria absoluta das pessoas abaixa a cabeça, olha para os lados e assume aquela atitude de "com doido não se discute". Se ocorre mesmo numa fila de supermercado, a reação é idêntica. Somos um povo pacífico? Zorra nenhum! Somos um povo covarde, alienado, despolitizado, servil.
Na porta do hospital que não lhe atende, silêncio e subserviência; diante do filho morto pela Polícia ou bandidos, na porta da casa, conformismo e, atualmente, nem mais uma lágrima; mas na chegada do ídolo do BBB ou de um candidato em campanha, euforia, histeria, festa. Tem jeito não...
quinta-feira, 17 de junho de 2010
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Eu tenho a mesma sensação todos os dias pois nos supermercados no banco onde ando que começo a comentar as pessoas fogem de mim como se louco fosse é hilário eu entre em crise surto e dou risada sozinho ´porque um povo assim pacifico so pode ser doente sadomaquismo so pode.................
ResponderExcluirExcelente texto, Alex! Concordo plenamente e detesto a histeria futebolística.
ResponderExcluirPARABENS INIMIGOS DO REI!!!!!! hj quase fui lindhada.disse em alto e bom som, torcerei por essa seleção canalinha, qdo em meu país tiver educação para todos, saude idem, moradia idem, segurança....e qdo aprendermos a exercer nosssa sidadania elegendo pesoas decentes e se ñ prestarem termos condições de mandá-los p casa.
ResponderExcluirQuase apanhei, e agora à noite leio vcs.
ESTOU VINGADA E FELIZ
a histeria vem provocada/estimulada justamente pela mídia e todos esses que até por "dever do oficio" cobrem a copa do mundo. o futebol é uma das minhas preferencias, aliás decadente. O meu Flamengo e Vitória já não justificam minha atenção. a copa do mundo me faz lembrar as arenas romanas e seus espetáculos "alea jacta este"
ResponderExcluirCaro Alex,
ResponderExcluirA cada dia fico mais sua fã. Eu como brasileira, nordestina, infelizmente, tou querendo desisitir. Já não vou a lugares onde tem muita gente (grandes supermercados? só de vez em quando quando o mercadinho perto de casa não tem algo fora do rotineiro e que estou querendo. Shoppeng? nem pensar!) Tou mesmo querendo voltar as minhas origens, na zona rural, porque mesmo a minha cidade natal já está ficando grande pra mim. Mas, fico feliz quando pessoas como você escrevem e agem como eu gostaria de estar fazendo e nem sempre tenho oportunidade. Parabéns!
Maura Sérgia
A histeria faz parte da emoção e da vontade de existir, como escreveu o prof. Ricardo Líper. Lutar contra desigualdade e injustiças é em outra frente. Assim como a luta contra a sociedade consumista. Como v. escreveu também sobre o péssimo atendimento. Todos nós sabemos, mesmo os ditos analfabetos, que não frequenta a academia, porém tem uma história de vida rica na luta contra as injustiças, sabem muito bem quando são insultados pelos poderes constituídos. Porém como você defende uma sociadade autônoma, em que a organização horizointal é a prioridade, já existem alguns grupos que defende e põe em prática esta teoria e são criminalizados quando ocupam terras, imóveis e fazendas improdutivas.
ResponderExcluircaro alex.parabens pelos seus comentarios. são sempre bem escritos e de conteudo.viva o central, maristas,... que realmente ensinava a juventude da epoca. sou seu fã. gostaria que voce, atraves dos seus artigos diarios na tb, informasse aos bahianos qual a verdadeira utilização ou a que beneficiará o do trecho do metro que um dia funcionará da rotula do abacaxi - lapa ; quem deverá o usuario dos jardins sob a linha do metro. geraldo
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