segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Não gosto de ladrões


A mais recente versão da vida de Dillinger

Ricardo Líper

Quando era adolescente, lia os livros de Maurice Leblanc sobre Arsene Lupin. Gostava das tramas e da maneira de escrever de Leblanc. Mas depois passei a não gostar de ladrões. Principalmente, os que usam a violência para atingir seus objetivos, assaltando pessoas comuns. Não sei ter duas medidas para a mesma coisa. Minha dialética não chega a tanto. Violência e roubo são as mesmas coisas. Pode ser dos fascistas, dos nazistas ou dos mais bem intencionados dos revolucionários. Atacar uma pessoa, a torturar, humilhar e saqueá-la, para mim é fascismo. Não vejo nenhuma diferença da brutalidade nazista. Como roubo de político, seja ele quem for e de que partido pertencer, é igual a roubo de um batedor de carteira comum. Para mim ambos são ladrões. E tem mais, não acho que homem pode ser ladrão e continuar sendo homem. Nesse ponto sou radical. Homem tem de ter ética. Comer mulher não significa ser homem, a não ser para um povo ignorante e boçal como o nosso, que nem sabe o que é ser homem de fato. Isto é, o que era praticado por todos os homens em todas as tradições masculinas de todos os povos. Isso tudo é para dizer que filmes sobre ladrões não me comovem e às vezes me aborrecem, como essa última versão da vida de Dillinger.

Um comentário:

  1. Concordo cem por cento com o texto na parte que constata a crueldade e indiferença pelos direitos alheios do homem que comete crimes contra o patrimônio, o chamado criminoso profissional.

    Porém acrescento que a crueldade verificada não é distintivo exclusivo do criminoso que usa a violência, mas de todo criminoso que atenta contra o patrimônio alheio, isto é, de todo aquele que tem um fraco pelo vil metal, daquele que tudo faz tudo para enriquecer, que dá até o cú por dinheiro, além de vender a mãe e ainda entregar.

    Realmente estes tipos não são homens, são vermes, homúnculos, moluscos morais, não se respeitam e muito menos aos outros, se submetem às piores humilhações, tais como ser flagrado com a mão na massa e ter que suportar a execração pública.

    A execração desta corja em nosso país é fraca devido ao analfabetismo e semi-analfabetismo de nosso povo que não faz a diferença das pessoas pelo caráter mas pelas aparências.

    A crueldade desta parte da escória se manifesta de várias maneiras: se cometem o crime com violência, tais como roubo, extorsão mediante sequestro, "sequestro relâmpago", extorsão (artigos 157,158, 159, todos do Código Penal), a crueldade é cometida com violência gratuita, matando, ferindo - o que ocorre mesmo quando a vitima entrega os bens -, ou com a tortura psicológica da vitima dominada apontando armas ou ameaçando-a de morte.

    Quando o crime contra o patrimônio é cometido com alguma astúcia, ardil ou logro, a crueldade se manisfesta em espezinhar a boa-fé da vitima, debochando, chamando-a de otário, mané.

    Mas a verdade é uma só: com ou sem violência o criminoso contra o patrimônio é uma pessoa cruel, completamente indiferente ao sofrimento alheio, e jamais lhe passa pela mente a idéia de valores como lealdade, respeito ao próximo e sequer respeito por si mesmo.

    Na literatura brasileira Rubem Fonseca é quem descreve muito bem estes criminosos, cujo tipo mais popular está personificado no assaltante.

    Este criminoso sempre presente em sua obra com a violência que lhe é característica já induziu aos mais desavisados a verem ali uma exarcebação da violência quando na verdade, penso eu, seus personagens foram colhidos com a vivência no observatório privilegiado desta faceta da realidade e da condição humana: as profissões de delegado de polícia e advogado criminalista.

    Do criminoso violento que atenta contra o patrimônio já se disse muito, mas quase nada se disse sobre o estelionatário (art. 171 do Código Penal), que é igualmente infenso a valores, frio e cruel, cometedor de uma crueldade sem violência, mas não menos ofensiva à dignidade da vitima.

    A verdade é que estes tipos, os estelionatários, são socialmente aceitos, donde poucos são os criminosos deste naipe que vão para a página policial dos jornais, e normalmente são nominados por um eufemismo, são chamados de "enrolados", quando não passam de ladrões batedores de carteira.

    A classe empresarial é tomada desta escória; ninguém tem coragem de falar, mas é a verdade.

    Os componentes desata escumalha posam de homens de bem - e enganam os incautos que acreditam em aprências -, vendem combustíveis com água e solvente, e ainda adulteram a bomba de gasolina para entregar menos que o vendido; vendem café com todo tipo de impurezas, para aumentar o peso; toalhas de banho que não enxugam, com componentes diferentes do especificado na etiqueta, cometem um rol infindável de crimes sem violência, sendo o mais corriqueiro a fraude no pagamento de impostos.

    Estes criminosos só usam a astúcia para vitimarem, mas nem assim são menos cruéis e danosos a sociedade, donde chego a pensar que talvez aqueles que têm coragem de furar um carro forte a tiros para roubar o dinheiro quando nada têm a virtude da coragem, o que falta completamente nos bandidos que se escudam em uma pessoa jurídica e fazem pose de honmens de bem.

    Mas como o mundo é pequeno e até as pedras se encontram, a briga de cachorro grande acontece mesmo quando um empresário é sequestrado...

    ResponderExcluir

Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.