terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Criando filhos num mundo sem sentido. Mas o único que temos.


Só leia se você tiver um mínimo de cultura cinematográfica.



tony PachecO

Acabei de ler “O Clube do Filme”, de um autor do qual eu nunca tinha ouvido falar, David Gilmour. A sensação inicial é de “déjà vu”, com Robin Williams recomendando filmes em vez de poemas em “A Sociedade dos Poetas Mortos”...
Mas, por ser um presente de Natal de uma das pessoas mais queridas e admiradas do meu convívio social, o jornalista André Curvello, filho do meu mestre nunca esquecido, José Curvello, ganhou um lugar de destaque no rol dos meus interesses de leitura.
Foram dois meses para concluí-lo, mas, não poderia ser de outro jeito. Se para ler “1808”, recomendação de outro amigo que admiro e que foi meu chefe na antiga SET, o coronel Adelson, levei apenas 8 dias, este “O Clube do Filme” teve que ser degustado lentamente pelo excesso de referências a muitos diretores, atores e filmes que fizeram, em muitos casos, parte de minha adolescência e vida adulta.
Mas, o tema geral do livro (a dificuldade de criar filhos no mundo moderno) angustiou-me de maneira como eu não poderia supor que uma obra literária pudesse fazê-lo, ainda mais no meu caso, com uma rápida passagem por consultório de Psicanálise, como psicanalista, e dois anos como paciente, e durante anos envolto na criação de filhos de meus irmãos, em vários episódios.
E, aí, me veio à mente outra imagem recorrente desde que li os primeiros parágrafos: Marco Aurélio Garcia, o guru do nosso presidente Lula em assuntos internacionais. Garcia odeia a TV fechada que Sky e Net trazem para o Brasil, pois levaria à nossa classe média uma visão de mundo calcada em valores americanos, distanciados de nossa realidade de Fim do Mundo (ex-Terceiro Mundo).
Sei do que Garcia está falando quando leio “O Clube do Filme”. O livro trata dos dilemas de um pai canadense (o Canadá é um dos dois países do planeta onde se tem uma vida mais digna, ao lado da Noruega), quando seu filho adolescente se recusa a ir à escola, se atola em cocaína e álcool e vive obcecado por mulheres manipuladoras que o transformam em escravo emocional.
Definitivamente, isso me remete a outro “monstro intelectual” (Sigmund Freud, que Ricardo Líper não respeita muito por razões óbvias...): não se pode ter processo civilizatório com pessoas idiotas.
Este livro “O Clube do Filme” não poderia ser lido por (arrisco o palpite estatístico) 90% dos brasileiros, nem por 50% dos americanos, arrisco mais ainda.
E os dilemas colocados, ao contrário do que Garcia poderia pensar, são os mesmos que os pais de classe média vivem hoje no Brasil, aqui no Fim do Mundo.
São filhos criados pelas mães, exclusivamente influenciados por mentes femininas, sem nenhuma referência dos arquétipos masculinos que povoaram minha infância, como de todos os homens nascidos antes dos anos 1960.
Lembro que meu pai, quando um dos meus irmãos apareceu com um inusitado cigarro de maconha, recebeu o “brinde” de ter que apagá-lo na língua.
Que eu me lembre, meu irmão nunca mais fumou maconha na vida depois daquele dia.
Hoje, meu pai seria preso, minha mãe é que iria pedir sua prisão e uma ONG seria fundada no mesmo dia para a defesa do direito dos filhos se divorciarem dos pais “tiranos”...
Mas, aí, volto a Freud: saúde mental é saber se adaptar ao mundo real. E o mundo real de hoje é este: os relacionamentos entre homens e mulheres são impossíveis no campo real, pois terminam antes que os filhos possam ter a sensação de que eles são possíveis.
O resultado são filhos como Jesse, o filho real do escritor David Gilmour em “O Clube do Filme”. Jovens seres humanos frágeis, presas fáceis de traficantes, de pastores, de colegas adeptos do “bulling”, de mulheres liberadas que são emocionalmente homens, de manipuladores de toda espécie.
Não há mais nenhum referencial masculino daqueles que meu pai e meus avós rachavam nossas cabeças para colocar, com autoritarismo e sabedoria dos quais hoje sinto uma nostalgia gostosa, inebriante.
Aos pais desesperados com filhos drogados, escravos emocionais, alienados, que preferem uma sessão de tortura medieval a estudar numa escola, só tenho uma coisa a dizer, por mais desesperadora que seja: ignorem o final do “Poema Enjoadinho” de Vinicius de Morais e fiquem apenas com os primeiros versos: “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los!”

4 comentários:

  1. VAMOS LER A BÍBLIA PORQUE LA DEUS ENSINA A CRIAR NOSSOS FILHOS E AMÁ-LOS INCONDICIONALMENTE PORQUE DEUS MANDA NOS AMÁ-LOS SAO NOSSA HERDEIROS E HERANÇA DE DEUS PARA PERPETUAR SEU AMOR PELA TERRA E SEUS HABITANTES. DEUS NOS AMA APESAR DE NÓS..................

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  2. o patriarcado deixou a sua indelével marca...

    pelo medo impôs seus valores, crianças que suspendia a respiração na presença do pai, a ponta da botina que se aproximava dos olhos marejados e a cabeça baixa impedia que um laço amizade se fizesse presente entre pai e filho.

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  3. Magnífico. Com a idade vocz6es perderam completamente o medo de dizer a verdade. Mas vão irritar muita gente idiota.

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  4. Cruel, mas muito b om Toni. parab~ens.

    Ronaldo Casali

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Se vai acusar alguém nominalmente, identifique-se e anexe as provas. Não vamos pagar indenização na Justiça por acusações que não fizemos.