sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Anticristo
O anticristo de Lars Von Trier
Ricardo Líper
Foi por acaso. Eu gosto de filme que me distrai. Confesso que gosto de policiais classe z, terror, suspense, enfim, uma boa história, intrigante, bem contada, sem o autor querer ser reconhecido como gênio. Há muito tempo não quero perder meu tempo tentando entender a última cheirada de cocaína ou o último cigarro de maconha desse pessoal. Com um título desse pensei ser alguma coisa tipo Carrie, A Estranha. Surpresa quando vi o nome do diretor: Lars Von Trier, festejado cineasta dinamarquês. Dizem que o filme é polêmico. Quando não se tem o que dizer sobre o que nos desconcerta dizemos que é polêmico. Besteira. O filme tem verdades luminares. Muito delírio, também. Mas é espetacular. A entrevista do diretor que está diponível na internet é monumental. Foi vaiado em Cannes. Se eu fosse do Júrí daria todos os prêmios a ele. Jornalistas indignidados. Muita coisa sem explicação alguma e nada disso importa. Quando não entendo imagino que é resultado ou do delírio do autor ou de substãncias alucinógenas e não me preocupo em entender. E não importa também o que levou o autor a fazer isso ou aquilo. O negócio não é se o resultado nos levou a sentir prazer, pensar ou não, mas se nos sacudiu na cadeira. Repare, se entende quase todo o filme. Foi muito bem fotografado. Elimina a fronteira entre filme pornô e filme não-pornô. Tem cenas de sexo explícito.
Tem uma frase que me ganhou: "a natureza é o templo de Satã".
O sexo entre um homem e uma mulher no filme é terrível e destrutivo. É didático como terapia contra o estresse. Enfim, deve ser visto. Revisto até. Mas, repare, sem pipoca e sem refrigerantes. Tome, de vez em quando, um vinho tinto com pedaços de salmão para as homenagens devidas.
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O professor Ricardo Líper lança a provocação quando cita a frase "A natureza é o templo de Satã", pois me faz lembrar uma frase repetida pelas pessoas de candomblé: "Na natureza habita o sagrado".
ResponderExcluirNão sou religioso, razão pela qual nenhuma das assertivas têm valor de verdade, mas gosto da afirmativa do povo de candomblé, pois do meu ponto de vista, antes de ser religiosa, esta forma de observar o mundo natural é estética, uma forma de procurar encontrar um sentido no mundo natural que nos cerca emprestando-lhe manifestações do belo.
Antropólogos e sociólogos costumam conceituar cultura como sendo tudo aquilo que o homem acrescenta à natureza, sendo ele própro um produto da existência da cultura. Retirando as consequências desta afirmativa vê-se que o homem acrescentando alguma coisa à natureza criou a si próprio, pois antes de existir cultura não existia ser humano, só um animal em estado de natureza.
Outra ilação que pode ser feita é que desta maneira, criando objetos culturais e por conseguinte a si próprio, o ser humano interage com o mundo natural como um demiurgo turbinado, um deus que criou a si próprio.
Pode-se concluir também que o ser humano como criador e produto da cultura é o próprio desequilíbrio ecológico, isto se for admitido que antes de existir cultura e o seu principal produto, o ser humano, a natureza vivia em perfeito equilíbrio, pois nada lhe era acrescentado ou subtraido.
Nesta relação homem versus natureza, sendo o próprio homem parte natureza e parte cultura, forças sagradas ou satânicas foram liberadas. E para quem ousa pensar fica evidente que questões existenciais, políticas e ecológicas subjazem à compreensão e ao uso destas forças.
Qualquer coisa que nos ajude a entender este inferno em que estamos metidos é de grande valia, portanto assistirei ao filme indicado pela astuta provocação do professor Ricardo Líper.
Correção: Nesta relação homem versus natureza, sendo o próprio homem parte natureza e parte cultura, forças sagradas ou satânicas, ou simplesmente impossíveis de serem controladas foram liberadas.
ResponderExcluirpor que não se reportar a palavras destituídas de misticismos, tais como: ganância; competição; concentração de bens duráveis ou não...
ResponderExcluir"forças sagradas ou satânicas, ou simplesmente impossíveis de serem controladas foram liberadas" é puro eufemismo!