Reflexões de fim de semana

Alex Ferraz

1. Fico entre espantado e raivoso quando ouço em rádios e TVs e vejo nos jornais apelos e, mais do que isso, ameaças da Receita Federal a respeito de quem deixou de declarar Imposto de Renda. Nós, pobres coitados assalariados, que já temos o imposto descontado na fonte, e que vamos continuar pagando caríssimo por qualquer mercadoria, até a cervejinha gelada para esquecer os problemas, por termos a taxa de juros mais alta do mundo, temos que correr, esbaforidos, perseguidos por contadores, funcionários da Receita e uma burocracia inominável, para ficarmos quites com o governo.
Quites com um governo que, enquanto nos tortura em busca das últimas moedas lá no fundo do bolso, libera de impostos gigantes da indústria esportiva (como a Nike, para citar apenas um) e um monte de empresas multinacionais bilionárias outras cujos lucros giram em torno do futebol. Isto mesmo: nenhuma empresa ligada à Copa do Mundo no Brasil, desde publicitárias até estações de TV, passando pelas já referidas multis de artigos esportivos, bebidas etc., vai pagar um centavo sequer de imposto neste país entre 2011 e o final da Copa de 2014.
Uma brutal sacanagem que, como não poderia deixar de ser, me levou a delirar de alegria ao ouvir que uma turma estava fraudando garbosamente o Imposto de Renda em Minas, conseguindo até R$ 80 mil ou mais em devoluções indevidas. Fiquei triste apenas ao saber que os caras foram presos...
E por que vibrei com a fraude? Porque sei que das centenas de bilhões arrecadados apenas uma merreca vai para a educação, a saúde e segurança públicas, neste país. Porque sei que uma bolada vai para a campanha de Dilma (como foi para a reeleição de Lula, como foi para a reeleição de FHC e por aí foi...). Porque sei que pago o que não posso para não ter coisa alguma do que preciso em termos das reais responsabilidades do Estado para com o cidadão. Então, ou se instaura a moralidade, ou soneguemos todos.

2. Começou o festival de liberação de verbas para deputados e senadores, via emendas. Podem ler nos jornais, que a coisa é feita às escâncaras (foi-se o tempo, neste país, em que burlar a lei era coisa que se fazia escondido). São centenas de milhões de reais divididos entre os políticos de Brasília, para que "apliquem em suas bases", o que significa tirar um por cento para aplicar de verdade e embolsar 99% através de ONGs e outras entidades, a maioria pilantrópica, levando o dinheiro para o próprio bolso. E assim, de liberação em liberação, de emenda em emenda, os deputados vão ficando podres de rico e aprovando tudo que o governo quer. Mas para os eleitores, fazem cara feia e fingem que protestam. Tô comendo nada!

3. A Coelba está zombando dos consumidores de energia da Bahia. Ter a cara de pau de chegar na TV, através de um diretor, e dizer que um "reajuste" de R$ 210 para R$ 2.300 numa conta de luz foi provocado pelo aumento de consumo devido à elevação da temnperatura, é fazer piada de péssimo gosto.
Ou seja, o aquecimento global (sic) é que é culpado pelo roubalheira da Coelba, tripudiando impunemente sobre seus clientes, debaixo do nariz de uma Aneel que finge que vai apurar, de Ministério Público que se limita a fazer "recomendações", de um Procon inerte e de políticos que, eleitos para "defender os interesses do povo", ficam mudos e até se escondem para não falar no assunto. Haja saco (de dinheiro!)!